A passagem de um navio de guerra dos EUA este domingo a menos de doze milhas de uma ilha reclamada pela China, no Mar do Sul da China, está a fazer crescer a tensão entre os dois países. O navio USS Stethem navegou junto à ilha de Triton, no arquipélago das Ilhas Paracel, um arquipélago que a China anexou unilateralmente e que é disputado por diversos países, incluindo Taiwan e Vietname.
De acordo com um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, a China enviou de imediato embarcações de guerra e caças para o local, para afastar o navio norte-americano. Na nota publicada este domingo na página do ministério, o governo chinês considera o incidente “uma grave provocação política e militar”, que pôs “em risco as instalações e o pessoal nas ilhas chinesas”. A atitude dos EUA, lê-se no comunicado, “violou a lei chinesa e internacional”, uma vez que aquelas ilhas “são parte do território chinês”.
Horas depois do incidente, o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, falaram ao telefone sobre as relações entre EUA e Ásia. Segundo a BBC, não é claro que o assunto tenha sido discutido pelos dois líderes. Citada pela BBC, a televisão estatal chinesa avançou que o presidente chinês afirmou a Trump que há “fatores negativos” que afetam as relações entre os EUA e a China.
Por seu turno, em comunicado oficial, a Casa Branca não confirmou que o assunto tenha sido abordado no telefonema, destacando que os dois líderes “reafirmaram o seu compromisso com a desnuclearização da península da Coreia”.
Esta passagem do navio norte-americano não foi inocente: desde que Donald Trump tomou posse, esta foi a segunda operação militar do programa Freedom of Navigation, um conjunto de medidas sobretudo diplomáticas — mas também militares — que os EUA usam para desafiar países que consideram levar a cabo abusos territoriais.
Os EUA têm insistido na ideia de que a China não pode reclamar a soberania sobre ilhas desabitadas em águas disputadas, apesar de a China assegurar que tem o direito a fazê-lo. Ao navegar a menos de 12 milhas náuticas da ilha — o limite imposto pela ONU para as águas territoriais — os EUA mostram que não reconhecem a soberania chinesa no local.
Na resposta, o governo chinês apela aos EUA “que parem imediatamente este tipo de operações provocatórias”, sublinhando que irá “usar todos os meios necessários para defender a soberania nacional e a segurança”.
As águas do Mar do Sul da China, sobretudo os arquipélagos de Paracel e Spratlys, são muito disputadas pelos países do sudeste asiático e pela China, uma vez que se pensa serem ricas em petróleo e gás natural. Ao mesmo tempo, é por lá que passam importantes rotas comerciais e piscatórias.
A China ocupa as ilhas pelo menos desde 1947. Completamente desabitadas, as ilhas albergam apenas infraestruturas que são ocupadas por militares destacados para o local — mas a China nega-o, afirmando que se trata de estruturas para civis.
Além disso, a China tem repetidamente construído ilhas artificiais na região, para estender as suas águas territoriais, algo que os Estados Unidos já vieram criticar. Já este ano, depois de uma operação semelhante nas ilhas Spratlys, o secretário da Defesa dos EUA, James Mattis, veio destacar que os EUA não aceitam que a China ocupe militarmente ilhas artificiais.
“Fatores negativos” nas relações entre os dois países
A administração Trump já tinha suscitado a irritação de Pequim, ao autorizar, no final de junho, uma venda de armamento, incluindo bombas guiadas, mísseis e torpedos, por 1,3 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) a Taiwan, uma ilha de facto independente, mas cuja soberania é reivindicada pela China. Taiwan separou-se do resto da China no fim da guerra civil chinesa, em 1949. Entretanto, os chineses não reconhecem o seu Governo independente e consideram a ilha uma província da China.
A embaixada chinesa já havia reagido à questão, dizendo que a venda de armas para Taiwan “vai prejudicar a confiança mútua e a cooperação entre a China e os Estados Unidos”.
O Presidente chinês, Xi Jinping, encontrou-se em abril com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, na residência pessoal do bilionário republicano, na Florida. As relações bilaterais pareciam, desde então, ter reaquecido. Entretanto, a lua-de-mel não durou muito, especialmente porque Trump mudou o tom em relação à China, na quinta-feira, devido à questão nuclear norte-coreana.
Trump anunciou, pela primeira vez, sanções contra um banco chinês acusado por Washington de realizar atividades ilícitas com a Coreia do Norte, que desenvolve um programa nuclear e ameaça constantemente os Estados Unidos.