É uma daquelas herdades alentejanas onde uma pessoa só consegue identificar a entrada principal: dois triângulos isósceles caiados de branco e um portão ao meio. Mas, para a esquerda ou para a direita desse marco simbólico, o olhar perde-se à procura de alguma coisa que marque o fim de tanto terreno. A Herdada da Comporta ocupa 12.500 hectares, mais ou menos 12.500 campos de futebol ou cerca de um terço da área de Lisboa.
Desde a assinatura de um contrato de compra e venda a 10 de julho último, o seu dono é Pedro Almeida, um empresário com interesses focados na exploração petrolífera e no imobiliário que também detém participações na área da restauração e na comunicação — onde é acionista de referência do Observador. Segundo se lê num comunicado enviado às redações sobre a realização do negócio, a estratégia de Pedro de Almeida passa por desenvolver um resort premium, “mantendo e reforçando as características únicas da Herdade da Comporta (…)”. O objetivo, lê-se ainda, será “criar uma estratégia global que garanta a manutenção de sustentabilidade, a preservação das atividades agrícolas e florestais e das características ambientais e paisagens circundantes”.
A Herdade da Comporta era o retiro da família Espírito Santo, mas foi colocada a venda quando o grupo faliu. O administrador judicial da Rioforte, holding (em insolvência) do Grupo Espírito Santo que geria os negócios não financeiros do grupo, teve que alienar património de forma a conseguir a recuperação do capital perdido pelos credores e a Herdade da Comporta já foi vendida.
O empresário é agora dono de 59% das unidades de participação do fundo da Herdade da Comporta mas também espera vir a comprar os 41% que ainda estão nas mãos da família Espírito Santo. Os interesses do empresário parecem estar sobretudo na exploração agrícola, pelo que os seus planos passam também por adquirir a maioria da sociedade que gere a atividade agrícola na herdade, situada em Alcácer do Sal e Grândola: Herdade da Comporta – Atividades Agro Silvícolas e Turísticas, S.A.
Em nota enviada às redações, Pedro Almeida refere que este projeto acabou por ditar o seu regresso definitivo a Portugal. “Tomei a decisão de desinvestir em determinados setores de forma a criar as condições financeiras para a realização deste investimento. O meu compromisso com o projeto da Comporta esteve na base da decisão do regresso definitivo a Portugal, depois de 38 anos a viver no estrangeiro, nomeadamente em Paris e Genebra”, esclarece o empresário.
A Herdade da Comporta é dos destinos turísticos mais procurados do país, com algumas das opções mais luxuosas mas também mais ecológicas na área da hotelaria. Entre a área agrícola, famosa principalmente pelos extensos arrozais, e o mar ficam apenas dunas que dispõem de vegetação selvagem.
A compra de 59% das unidades de participação da Herdade da Comporta – Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado (FEIIF) está a ser feita através da Ardma Imobiliária, filial do ramo imobiliário da Ardma SGPS, o grupo de Pedro Almeida, que tem participações na área do petróleo bruto e de produtos derivados do petróleo.
Após a concretização do negócio com a insolvente Rioforte, que detém 59% das unidades da herdade da Comporta, a Ardma pretende avançar para a aquisição das restantes posições – 26% nas mãos de cerca de 80 acionistas ligados à família Espírito Santo, e 15% na sociedade Nelia. O valor do negócio não foi tornado público e este negócio também não consta na página onde estão detalhadas as insolvências das sociedades do antigo Grupo Espírito Santo.
O processo de venda decorre desde setembro do ano passado, depois de uma primeira tentativa falhada em 2015, já que são vários os envolvidos que têm de dar o aval na operação: não só a insolvente vendedora, como o próprio Ministério Público português, que exigiu que as receitas com a operação ficassem retidas em Portugal.
A agência de gestão imobiliária CBRE já tinha feito uma avaliação da Herdade e, segundo o semanário Expresso, terá colocado o valor da propriedade perto dos 420 milhões de euros. Seja qual for o valor do negócio, será preciso descontar as dívidas do fundo e da própria Herdade, que rondam os 130 milhões de euros, escreveu ainda o Expresso.
Em abril de 2015, os norte-americanos Asher Edelman e David Storper, da gestora de fundos financeiros Armory Merchant, mostraram interesse pela propriedade, oferecendo um total de 400 milhões de euros. O negócio implicava a compra de duas unidades da Comporta por 100 milhões de euros, outros 200 milhões para assumir a dívida 100 milhões de euros para relançar a atividade da herdade.
No mês seguinte, o Ministério Público arrestou o património imobiliário de vários membros da família Espírito Santo, incluindo o património da Herdade da Comporta, o que acabou por travar esta primeira tentativa de compra.
Ao jornal Eco, Pedro Almeida já tinha assumido o interesse nas atividades agrícolas da herdade: “o meu objetivo final é a parte agrícola, ou seja, a Herdade da Comporta. O meu objetivo é evitar que isto vá para mãos estrangeiras e preservar o valor da herdade”, declarou.
Quem é Pedro Almeida? Um homem de negócios. Além da restauração e da comunicação social, durante vários anos trabalhou com Patrick Monteiro de Barros, que conheceu no final dos anos 1970, quando Almeida estava na Petrogal, hoje Galp Energia. Patrick Monteiro de Barros, amigo de Ricardo Salgado, chegou a ser acionista e administrador da Espírito Santo International, contratou Pedro Almeida para trabalhar na Philip Brothers, empresa que operava no negócio de comercialização de petróleo.