Os municípios vizinhos da zona mais afetada pelos incêndios de Pedrógão Grande e Góis defendem um projeto-piloto para a floresta mais abrangente, tendo Ansião e Alvaiázere enviado já uma carta ao primeiro-ministro a exigir a sua integração.
As autarquias afirmam que têm investido na proteção civil e na sensibilização das populações para a prevenção de incêndios, mas grande parte da resolução do problema, notam, passa por um ordenamento e um cadastro florestal, numa estratégia integrada – ação para a qual os municípios sozinhos não têm capacidade.
“Não havendo legislação aprovada é difícil”, nota o presidente da Câmara de Oleiros, Fernando Jorge, que em 2003 viu 90% da área florestal do seu concelho ardida. Desde então, “não se fez nada”, apesar das promessas que já ouviu de se repensar a floresta.
Para os municípios vizinhos, todos da zona do Pinhal Interior e a maioria com uma grande percentagem de área florestal, seria necessário uma integração destas autarquias no projeto-piloto de reordenamento prometido pelo Governo.
Os presidentes dos municípios de Ansião, Rui Rocha, e de Alvaiázere, Célia Marques, do distrito de Leiria, tomaram até uma posição conjunta e enviaram já uma carta ao primeiro-ministro, António Costa, e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a pedir “um programa mais abrangente”, contou à Lusa Célia Marques.
“Compreendo que quando falamos deste tipo de intervenções não seja possível colocar todos os municípios no mesmo patamar de igualdade, mas é uma oportunidade perdida se todos os municípios que foram afetados não estejam envolvidos”, disse, sublinhando que o risco de incêndio no concelho de Alvaiázere (no mesmo distrito) é agora “mais acentuado”, por ter toda a área envolvente “a norte já ardida”.
Segundo Rui Rocha, é nos concelhos vizinhos da zona afetada em junho na região Centro que passa “a haver maior possibilidade de ocorrerem incêndios”.
“Gostávamos de beneficiar da articulação com o Governo, para perceber como podemos intervir na salvaguarda da floresta que temos”, sublinhou o presidente da Câmara de Ansião.
Em Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, onde o incêndio ficou “no limite de entrada do concelho”, o presidente da Câmara, António Miguel Baptista, defende a integração de “todo o Pinhal Interior” no projeto-piloto de ordenamento e cadastro florestal.
O presidente da autarquia de Proença-a-Nova, João Lobo, defende a mesma posição, sublinhando que estará presente a 19 de julho na reunião entre municípios afetados e Governo, para dar “nota de que há necessidade de estender o projeto a toda a zona do Pinhal”.
“Não havendo reordenamento fora da zona afetada, continua a haver risco. Terá que abranger toda esta área”, frisou o governante de um município em que 80% do território é ocupado por floresta.
“A floresta faz parte da nossa vida e tem de ser uma das prioridades e uma das preocupações. Delapidar a fonte de riqueza de forma cíclica e continuada tem de parar. Tem que se pegar na raiz do problema, que é a gestão do espaço”, salientou João Lobo.
Dois grandes incêndios florestais começaram no dia 17 de junho em Pedrógão Grande (Leiria) e Góis (Coimbra), tendo o primeiro provocado 64 mortos e mais de 200 feridos. Foram extintos uma semana depois.
Estes fogos terão afetado aproximadamente 500 imóveis, 205 dos quais casas de primeira habitação.
Os prejuízos diretos dos incêndios ascendem a 193,3 milhões de euros, estimando-se em 303,5 milhões o investimento em medidas de prevenção e relançamento da economia.
Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta.