Primeiro, o aviso. Alvo? Os autarcas, mesmo os mais “sérios e rigorosos”. Luís Marques Mendes disse no seu comentário dominical na SIC que os autarcas deviam acabar com a prática de aceitar viagens pagas por empresas. Depois, as críticas: o mais atingido? Pedro Passos Coelho. Ou por causa da relação com o Presidente da República — onde revela “falta de inteligência política” — ou devido ao aproveitamento político da tragédia de Pedrógão Grande, ou pelo alinhamento com a esquerda numa possível aliança para mudar as regras das cativações, ou ainda uma apreciação negativa a Álvaro Almeida, o candidato do PSD no Porto. Pior, Mendes dá Passos como liquidado no próximo ciclo político. O Governo teve críticas mais suaves do ex-líder do PSD.
Sociedade vê o comportamento de aceitar viagens como menos ético. Na semana em que, depois da Huawei, da Oracle ou da NOS se falou das viagens comparticipadas pela Microsoft a autarcas, Marques Mendes disse que percebe que estes agentes políticos “que têm de tomar decisões, visitem empresas e vejam processos de inovação”. Mas o clima mudou, sobretudo depois da crise. “Acho que depois das crises dos últimos anos, o comportamento da sociedade mudou”, afirmou o comentador. “Aquilo que a sociedade considerava normal, agora considera como um comportamento eticamente menos correto”. Concluiu com uma recomendação: “Diria que, para o futuro, os autarcas que façam estas viagens paguem do bolso. Acho que devia terminar esta ideia de fazer viagens a expensas de privados”. Uma das razões: se depois houver uma adjudicação “fica a suspeita”.
A frase de Azeredo Lopes, um reparo ao Governo. “O Governo convive mal com os casos de Tancos e Pedrógão”, alegou Marques Mendes. “São uma pedregulho” na vida do governo. O comentário vinha a propósito da entrevista do ministro da Defesa ao Diário de Notícias e a polémica frase de Azeredo Lopes que fez eco ao longo deste domingo: “Não sei se alguém entrou em Tancos. No limite, pode não ter havido furto”. O analista político desvalorizou o caso, por entender que “todas as críticas estão centradas numa frase”, que diz que “pode nem haver furto”, mas que se for lida “no quadro do contexto é uma hipótese teórica. Uma hipótese, mas que seria um absurdo. Acho que não foi uma desvalorização”, apreciou Marques Mendes, sem acompanhar as reações do CDS e do PSD. Aconselhou o ministro a antecipar-se e a disponibilizar-se a ir ao Parlamento antes de os partidos voltarem a insistir. Mais importante para Mendes eram, porém, as conclusões do inquérito e o apuramento de responsabilidades, para que não recaiam apenas no “mexilhão”.
Donativos a Pedrógão, a primeira crítica ao PSD. Duas ao Governo. Mendes criticou o presidente da câmara de Pedrógão que falou em desvio de verbas, lançando “suspeitas para o ar sem concretizar” e a “brincar com o fogo”. E depois veio a primeira crítica da noite ao PSD: “Também não apreciei muito que a oposição continue sempre a fazer partidarite com base neste assunto. Houve a questão dos supostos dos suicídios. A lista dos alegados mortos escondidos. Agora os donativos. Não me parece o tema mais adequado para fazer debate político”. Mendes não o disse, mas estava a alvejar diretamente o seu partido, que até fez uma conferência de imprensa sobre o assunto.
Mas também apontou falhas ao Governo, porque “tinha a obrigação de divulgar com clareza e transparência a questão dos donativos”, o que só fez depois do “puxão de orelhas do Presidente da República”. A seguir, elogiou a forma como as coisas estavam a correr no terreno. Ainda aproveitou para sublinhar a fraqueza política da ministra da Administração Interna, que levantou um processo ao comandante da Proteção Civil por acumulação de funções como gestor de um aeródromo. “A ministra chamou-o e ele recusou demitir-se”, afirmou Mendes.
Segundo tiro: “Não é de grande inteligência política” Passos ter esta relação com Marcelo. O conselheiro de Estado e amigo de Marcelo Rebelo de Sousa e de Pedro Passos Coelho foi muito ácido para o líder do PSD no que se refere à relação entre Presidente da República e ex-primeiro-ministro. Primeiro, começou com alguma ironia a dizer que “a relação é má há muito tempo” e que “não se pode agravar aquilo que já é mau ou acima disso”. Ou seja, a relação é péssima. A seguir, argumentou que Passos Coelho só tem a perder: “Tenho dificuldade em perceber a vantagem de Pedro Passos Coelho em acentuar a divergência e a sua má relação com Marcelo Rebelo de Sousa”. A base eleitoral de ambos coincide e ao fazer do Presidente um adversário, “dá trunfos ao adversário principal”. E rematou com uma mensagem dura para o líder do PSD que pertenceu à sua comissão política como líder do PSD: “Não me parece de grande inteligência política ter esse tipo de relação.”
A terceira nota negativa para o PSD nas cativações: “Pior que vir o diabo”. Ao falar do problema das cativações, Marques Mendes voltou a carregar nas críticas à oposição, por alinhar com a esquerda contra o que seria a atitude normal dos partidos quando estão no Governo. “O PSD e o CDS, que fizeram cativações, que sempre defenderam cortes e poupanças, ponderam estar ao lado do BE e do PCP para mudar as regras [das cativações]. Isso não compreendo nem compreende ninguém”. E argumentou que tal minava a credibilidade do partido. E foi então mais uma vez violento para o seu partido e para o CDS: “Mas mudar estas regras, sobretudo nesta matéria” sobre a despesa “PSD e CDS ao lado do PCP ou BE, — acho que é quase pior do que vir o diabo”.
E vão quatro: debate no Porto e o candidato que não sabe. O comentador classificou como “fraquinho e pobrezinho” o último debate dos candidatos autárquicos ao Porto. “Acho que Rui Moreira foi mais eficaz”, avaliou Mendes. Teixeira Lopes, do Bloco, foi o mais “acutilante”. Ilda Figueiredo: “Previsível”. E os restantes, “um porque não pode e outro porque não consegue”. Se Pizarro “não pode”, por estar a pagar por tudo o que Moreira fez e não fez, Álvaro Almeida, do PSD é o homem que “não consegue”. Mais uma farpa para o PSD e para as escolhas autárquicas de Passos: “Almeida não sabe. Não está em causa a sua competência técnica. No debate não deixou uma ideia, uma marca. Desaproveitou mais uma oportunidade para ser alternativa”.
O fim de Passos como seguro de vida da “geringonça”. O quinto ponto negativo. Este foi um comentário subliminar. O tema era Catarina Martins ter dito ao Expresso que uma maioria absoluta do PS era “um retrocesso”. Mas segundo Mendes “Costa não pensa noutra coisa”. Onde é que Passos Coelho entra na equação? Quando o comentador deu o líder do PSD como liquidado até 2019 e como não fazendo parte do ciclo político seguinte. “Dificilmente se repetirá esta solução. Catarina Martins diz que é irrepetível”, citou Marques Mendes. E então disse “a” frase: “No futuro não haverá o papão de Pedro Passos Coelho, que é uma espécie de seguro de vida da geringonça”. Não há? Só se perder o partido depois das autárquicas ou perder as eleições em 2019, mas isso o comentador da SIC não explicitou…