Esta podia ser, simplesmente, uma notícia sobre a primeira mulher presidente de Singapura. A primeira mulher a conseguir, num país ainda conservador e algo retrógrado no que toca a igualdade de género, chegar ao mais alto cargo de uma nação. Uma mulher que, além do mais, pertence a uma minoria étnica. Mas esta notícia não é só sobre isso. Halimah Yacob foi eleita sem um único voto.
A antiga porta-voz da minoria malaia no parlamento, de 63 anos, não teve de enfrentar uma eleição porque os outros dois candidatos foram considerados não elegíveis pelas autoridades. Esta não é a primeira vez que o governo – altamente controlado pelo mesmo partido há décadas – desqualifica candidaturas, tornando as eleições desnecessárias. Não foram dadas justificações sobre os motivos da não elegibilidade dos candidatos.
As redes sociais foram automaticamente inundadas de comentários menos simpáticos e reprovação face à pouco democrática eleição de Yacob. A hashtag #notmypresident voltou, depois de ser uma das principais marcas do descontentamento dos norte-americanos com a vitória de Donald Trump. Quando foi anunciado que Halimah Yacob era a nova presidente-eleita (president elect, em inglês), rapidamente a mensagem “president select” (presidente selecionada) ecoou pelo Twitter e pelo Facebook, com muitos cidadãos a mostrarem publicamente o seu desagrado com a decisão.
As críticas às eleições presidenciais começaram logo no início, quando foi anunciado que apenas a comunidade malaia se podia candidatar. De acordo com o executivo, esta decisão foi tomada para criar harmonia entre os singapurenses, já que o país é maioritariamente dominado pela população chinesa.
A nova presidente, que fez parte do Partido de Ação Popular durante 20 anos antes de sair para se candidatar à presidência, respondeu às críticas num discurso para uma multidão. Halimah Yacob disse que é “a presidente para toda a gente. Ainda que não tenham existido eleições, o meu compromisso para vos servir permanece o mesmo”.
O último malaio a ser presidente de Singapura foi Yusof Ishak, que governou entre 1965 e 1970 e é a figura presente nas notas do país. O atual primeiro-ministro é Lee Hsien Loong, o filho do primeiro-ministro fundador do Estado de Singapura, Lee Kuan Yew. Loong é o líder do Partido de Ação Popular, que está no poder desde 1959. Hoje tem 83 dos 89 assentos do parlamento.