Portugal deve continuar a viver com boas notícias nos próximos tempos, “mas seria um erro fingir que o país encontrou uma solução duradoura para os seus problemas“. O aviso é de um economista do Commerzbank, em nota enviada aos investidores, que alerta que “só graças à política de juros baixos do BCE é que são suportáveis os custos da dívida pública e privada”. Quando, finalmente, as taxas de juro subirem, Portugal caminha para ser “um dos países que mais vão sofrer com isso”, porque “a competitividade ganha nos últimos anos já está a ser prejudicada pelas políticas” de um Governo que está a fazer com que Portugal esteja a “voltar à tendência pouco saudável que só foi interrompida momentaneamente pela crise financeira“.

A nota foi enviada pelo economista Ralph Solveen, do Commerzbank, aos clientes deste que é um dos bancos mais influentes no mercado de dívida europeu. O economista faz um ponto de situação sobre Portugal, dias após a saída de lixo do rating da S&P, e coloca em causa que tudo esteja a correr bem, se se pensar no médio e longo prazo.

No curto prazo, a expectativa é que, com a economia europeia e global em fase de expansão e juros baixos na zona euro, “o crescimento robusto deve continuar nos próximos trimestres” (2,5% em 2017 e 2% em 2018, prevê o banco alemão).

Estas taxas de crescimento vão ajudar a compensar o impacto do aumento da despesa pública e reduzir o défice e o rácio da dívida pública. Mesmo que o governo não atinja os objetivos ambiciosos nestas áreas, a tendência positiva deve persuadir as outras agências de rating a subirem as notações de risco”.

Os problemas podem vir depois. “Mesmo que pareça que os próximos tempos serão de navegação serena, seria um erro fingir que o país encontrou uma solução duradoura para os seus problemas“, diz o Commerzbank.

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O Estado e o setor privado continuam muito endividados. Só graças às taxas de juro baixas aplicadas pelo BCE é que estes custos são suportáveis”.

É certo que “taxas de juro mais altas não deverão surgir a breve trecho, mas quando elas subirem Portugal deverá estar entre os países da zona euro que mais vão sofrer”, diz Ralph Solveen.

E porquê? O Governo socialista apoiado pelos partidos mais à esquerda revelou-se “mais pragmático do que o temido” — recorde-se que foi o mesmo Commerzbank que questionou se Portugal seria “a próxima Grécia“, após a queda do Governo de Passos Coelho. Porém, este Governo está a fazer com que Portugal regresse à “tendência pouco saudável que apenas foi interrompida momentaneamente nos anos da crise”.

Ralph Solveen sublinha que “as melhorias ao nível da competitividade (de preço) que foram conseguidas nos últimos anos já estão a começar a perder-se, sobretudo devido à ação do Governo“. O Commerzbank lembra que o salário mínimo foi aumentado em 5% no início de 2016 e, depois, houve novo aumento no início de 2017 — e deverá haver mais subidas nos próximos anos.

Mesmo antes destes aumentos do salário mínimo, em 2015, “Portugal já tinha o segundo salário mínimo mais elevado da OCDE em comparação com o salário médio, só superado por França. Mas já ultrapassou França, por larga margem”, lamenta Ralph Solveen.

Estes “aumentos excessivos do salário mínimo tornam mais difícil que os trabalhadores pouco qualificados — que, em Portugal, existem em proporção muito acima da média — consigam encontrar trabalho”. Além disso, estas medidas aumentam os custos das empresas com salários, não só porque obriga a pagar ordenados mínimos mais elevados mas porque isso desloca toda a estrutura salarial acima disso.

“O resultado disto é que os custos unitários do trabalho em Portugal já têm vindo a subir a um ritmo mais rápido do que nos outros países da zona euro”, afirma Ralph Solveen, acrescentando: “Se, como antecipamos, esta tendência continuar, Portugal vai uma vez mais emergir como um local pouco atrativo para investir — e, no longo prazo, a economia irá pagar o preço“.

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