Portugal tem uma dívida pública, de perto de 130% do PIB, que é “completamente insustentável” e têm sido “glaciares” os progressos na redução do endividamento. Esta é a opinião de um colunista da Bloomberg, Marcus Ashworth, que é um antigo chefe da estratégia em mercados financeiros na Haitong Securities, em Londres. Ashworth não alinha em euforias, apesar da decisão da S&P de tirar o rating de Portugal de lixo, e sublinha que a “insustentabilidade” da dívida só não é um problema porque o Banco Central Europeu (BCE) é dono de quase um terço.

Na opinião deste colunista, não faz sentido que a dívida de Portugal possa ser considerada um “investimento de qualidade”, que é o que pressupõe a notação de risco (BBB-) que a S&P lhe atribuiu na sexta-feira — e as outras duas grandes agências, Moody’s e Fitch, também parecem perto de fazer o mesmo.

“Com um rácio de dívida, em percentagem do PIB, bem acima de 125%, o fardo da dívida é claramente insustentável, não fosse o apoio incondicional por parte do banco central. Agradeçam ao BCE”, escreve Marcus Ashworth.

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O colunista, especialista em mercados financeiros, considera que a recente baixa das taxas de juro no mercado — já a descontar a hipótese de as agências de rating subirem a notação — é “mais o resultado da escassez relativa de títulos do que uma qualquer transformação económica súbita”.

“Portugal é um dos poucos países que aparece em todos os mecanismos de apoio do Banco Central Europeu. O banco central já é dono de quase um terço de toda a dívida existente, o que é o máximo previsto nas regras do programa de compra de dívida”, assinala Ashworth. A ação do BCE ajuda a comprimir as taxas de juro no mercado, facilitando as emissões de nova dívida, e os lucros obtidos com os juros pagos pelo Estado vão para o BCE (e não para investidores privados) e, depois, são distribuídos pelo Eurosistema, regressando, em teoria, ao Estado na forma de dividendos do banco central nacional.

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Marcus Ashworth afirma, também, que a decisão da S&P não é suficiente para a inclusão de Portugal nos grandes índices de obrigações, como o World Government Bond Index do Citigroup e os Bloomberg Barclays Indices. Uma promoção por parte da Moody’s, em especial, seria importante para este fator.

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