A Organização Não-Governamental Viver Sem Fronteiras é suspeita de desviar roupa doada para fins humanitários na Guiné, depois de a GNR lhe ter apreendido vestuário avaliado em 4,2 milhões de euros, disse fonte ligada ao processo.

A mesma fonte adiantou à agência Lusa que a ONG, presidida por Natália Oliveira, tinha num armazém em Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, 96 mil artigos de vestuário das marcas Salsa e Tiffosi, que teriam como destino a comercialização e não a ajuda a pessoas carenciadas na Guiné-Bissau.

A ONG está indiciada da prática dos crimes de burla qualificada e fraude fiscal, referiu a GNR esta terça-feira, em comunicado, acrescentando que a roupa apreendida em Santa Maria da Feira valeria 4,2 milhões de euros.

Contactada pela Lusa, Natália Oliveira confirmou as buscas nas instalações da ONG a 4 de setembro passado e remeteu para mais tarde esclarecimentos em comunicado a enviar à Lusa.

Em março de 2016, a Viver 100 Fronteiras ponderava abandonar a Guiné-Bissau, país para onde enviou entre 2008 e maio deste ano 46 contentores, de 46 toneladas, com ajuda para os setores da saúde, educação e alimentação, avaliada em 52 milhões de euros. Na ocasião, o Governo da Guiné-Bissau informou a Lusa que desconhecia a existência da ONG por não se encontrar nos seus registos e ainda por esta “nunca se ter relacionado” com aquela estrutura governamental.

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Criada em 2008 para levar ajuda à Guiné, a Vivem 100 Fronteiras tem vindo a realizar missões de ajuda no Senegal, São Tomé e Cabo Verde e, em maio deste ano, anunciou à agência Lusa que tinha previsto prestar apoio no Haiti, Costa do Marfim e Moçambique.

A Fundação João XXIII/Casa do Oeste, localizada na Lourinhã, distrito de Lisboa, é também suspeita de um esquema idêntico, tendo sido constituídos arguidos, no início de setembro, o padre seu presidente e uma voluntária, indiciados pelos mesmos crimes.

Na ocasião, numa busca realizada numa garagem de uma habitação em Mafra, propriedade da arguida, a GNR veio a apreender 2.700 peças de vestuário da marca Salsa, estimadas em 208 mil euros.

A GNR efetuou também outra busca numa loja solidária da Fundação, em Mafra, onde não veio a apreender quaisquer artigos suspeitos. A roupa estaria a ser comercializada de forma ilegal e a preços mais atrativos, provocando um decréscimo anormal nas vendas dos representantes da marca naquela região, explicou fonte da GNR à Lusa.

A 8 de setembro, em comunicado, a Fundação, que há 28 anos leva missões de solidariedade à Guiné, confirmava a realização das buscas e de bens doados para serem enviados para a Guiné, acrescentando que estes não foram apreendidos pela GNR.

Esclarecia ainda que a mulher constituída arguida não é sua voluntária e admitia “incorreções de procedimento e, eventualmente, de legalidade” em algumas ações de solidariedade realizadas.