Na sua primeira entrevista depois de anunciar a candidatura à liderança do PSD, Rui Rio diz que se “estivesse à frente do PSD e mesmo que fosse Pedro Passos Coelho, já teríamos talvez o défice a zero neste momento. “E com os mesmos ganhos que as pessoas tiveram”, diz o antigo presidente da câmara do Porto na TVI.

“Acho que já vi o suficiente” do Orçamento do Estado para 2018 — embora ainda não o tenha lido com toda a atenção — para dizer que “pensa mais no presente do que no futuro”, afirmou Rio logo no inicio da entrevista. “Devíamos estar a pensar numa situação de menor crescimento económico”, defendeu e argumentou: “Devíamos estar a preparar-nos para navegar com o mar encapelado e não apenas com o mar calmo e isso devia obrigar-nos a ser mais prudentes nos ganhos.”

Logo aos primeiros minutos, Rio reage com intensidade a uma pergunta sobre a disponibilidade para recriar o bloco central. “É quase difamatório”, atira o ex-autarca do Porto, que de imediato rejeita alguma vez ter defendido esse modelo de Governo. “Onde é que eu disse isso? Onde é que eu disse que o PSD, se eu for presidente, joga para o segundo lugar?”, questionou. E também respondeu: “Não disse em lado nenhum lado”. Para o candidato à liderança do PSD, esse “é um sinal de que não têm nada para me atacar e inventam o que eu não disse”.

Aquilo que Rio defende é outra coisa: “Todos os partidos têm de por os interesses partidário de lado e entender-se quanto às reformas estruturais para o avanço do país”. Reformas da Segurança Social, da Justiça, da prevenção contra os incêndios. E, aí, cabem mais que dois partidos. Um, dois, três… cinco? “Os que forem, no sentido de criar um programa para isto [os incêndios, em concreto] acabar e, amanhã, sai o PS, entra o PSD, mas está lá, amarrado a uma política definida por todos”, exemplifica.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A crítica a Marcelo: não almoçaria com ele no quadro de uma eleição interna.

Rui Rio, que foi um dos possíveis candidatos da direita à Presidência da República, começou por dizer que o Presidente, “seja ele quem for”, está “num lugar institucional importantíssimo, e tem de ser um elemento de equilíbrio na sociedade portuguesa, na política em particular”. O candidato à liderança do PSD dá como exemplo o último mandato de Mário Soares, como uma fase em que “não foi saudável aquele embate entre o PR contra o Governo”.

Depois da crítica a Soares, as críticas a Marcelo Rebelo de Sousa. Questionado sobre a opinião que tinha do Presidente, Rio assumiu as diferenças: “Pode haver momentos pontuais em que podia ter sido diferente do que foi — não foi dizer quais –, e gostava que o atual Presidente pudesse em algumas situações ter sido diferente do que foi em relação ao Governo e oposição.

Quanto ao almoço que Marcelo teve com Pedro Santana Lopes antes de este também avançar com uma candidatura à liderança, Rio voltou a marcar bem as diferenças em relação a Belém: “Gostaria de almoçar com o Presidente da República , pois como sabe conheço-o bem porque fui secretário-geral dele, mas no quadro de uma eleição partidária não”. Ou seja, “se fosse Presidente, não teria feito o almoço com Pedro Santana Lopes”.

O que distingue Rio e Santana? “Ui, tanta coisa”

Não é tanto uma questão ideológica que o separa de Santana Lopes, considera Rio. As grandes diferenças estão no perfil pessoal, a “maneira de ser”.

E, aí, Rui Rio aproveita o palco para fazer as contas com uma das críticas que lhe foi sendo feita ao longo dos anos, ao ponto de se lhe colar como um traço de personalidade: o “hesitante”, é o próprio quem atira a expressão para a mesa. “Alguma vez eu disse que ia?”, volta a perguntar. E volta a responder. “Chegou agora [o momento], disse que ia e vou, acabou”. No discurso de apresentação que fez esta semana, em Aveiro, Rio citou António Costa para mostrar que “palavra dada é palavra honrada”. A expressão, já a usou várias vezes o primeiro-ministro nos debates da Assembleia da República. O ex-autarca do Porto reclama-a agora para si.

“Ganhei três eleições no Porto e colocou-se a possibilidade, pediram-me para ser [candidato à liderança] e eu estava a meio do segundo e no início do terceiro mandato”, recorda. Não avanço porque cumpre a palavra “até ao fim” e não tinha, por isso “hipótese” de avançar em qualquer dos momentos em que a liderança foi disputada por Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite.

Com Santana é diferente, diz Rio, e traça a linha na areia. “O dr. Santana Lopes é ao contrario, está nos sítios, sai a meio”, e se era para sair da Santa Casa da Misericórdia, até já o devia ter feito há mais tempo, defende. “Ainda há pouco tempo era candidato à câmara de Lisboa, ou poderia ser, deixou arrastar a decisão no tempo, criando as dificuldades que se sabe ao PSD e, depois, não foi porque estava apaixonado pelo trabalho da Santa Casa”. Passaram “quatro ou cinco meses, sai da Santa Casa e já está apaixonado pelo PSD”, aponta Rio, ainda que insistia que não é uma “crítica” que faz a Santana, antes uma constatação de facto.

Santana, retira-se das palavras de Rio, não tem por isso algo que é “vital” na política: palavra de honra. O combate para a sucessão de Passos Coelho vai travar-se nesse plano, com o “choque de personalidades” entre os dois candidatos. “Somos muito diferentes, basta olhar para o meu trajeto ao longo da vida e para o trajeto dele, há diferenças notórias”, diz o ex-autarca do norte.

Numa espécie de ajuste de contas com o passado mais recente, Rio recupera ainda uma outra mancha que lhe apontam: a de ter criticado publicamente a direção do PSD, como se de uma traição se tratasse. “Eu até divergi de alguns aspetos, não da linha fundamental”, diz, excluindo os momentos em que divergiu de Passos, primeiro-ministro enquanto estava na câmara do Porto. Já “outros”, que até têm “espaços de comentário” regulares na televisão, “por vezes discordaram, outras vezes concordaram”. Não é difícil perceber em que direção é lançada a contra-crítica de Rui Rio.

Na fase final da entrevista, Rui Rio voltou a sublinhar que o Bloco Central “está mesmo afastado”.

Outra pergunta colocada a Rio tem a ver com o facto de não estar na Assembleia da República, algo que não entende como uma fragilidade: “Não estou no Parlamento como muitos outros presidentes do PSD não estiveram”, como Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite ou Pedro Passos Coelho no início. Rui Rio não vê “problema nenhum”, porque “o grupo parlamentar é do PSD. Conto com eles todos”, afirmou na TVI. E contesta mesmo a ideia de que os lugares dos deputados, sobretudo da liderança parlamentar estejam em causa.

Dizem que pode vir o Rui Rio, porque senão há uma purga, vai-se limpar tudo. Não se vai limpara nada. Não há purga nenhuma. Vai haver uma abertura do PSD à sociedade, procurando que entrem mais pessoas, mas não é para os lugares destes, depois logo se vê como é”.

https://observador.pt/2017/10/11/rui-rio-e-um-homem-de-centro-esquerda-diz-diretor-de-campanha/

Rui Rui deu a sua primeira entrevista como candidato à liderança do PSD, quatro dias depois de se ter lançado na corrida. Em Aveiro, onde se apresentou no dia 11 de outubro, o ex-presidente da câmara leu uma intervenção de cerca de 20 minutos, sem direito a perguntas. Garantiu estar “com os dois pés no PSD e no país”. Disse que a política em Portugal, de tão descredibilizados que estão os partidos, precisa de “um banho de ética”; agradeceu a Passos Coelho, porque a “gratidão é dos valores éticos mais relevantes da nossa convivência social”; falou aos jovens sociais-democratas e apelou a uma mudança de política no PSD. Uma mudança que, disse, passa por recentrar o partido.