“Ontem tive uma reunião com o senhor primeiro-ministro e decidimos que o Infarmed ia para o Porto. Posso contar consigo?”. Segundo a presidente do Infarmed, Maria do Céu Machado, esta foi a mensagem transmitida pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, num telefonema às 8 da manhã de 21 de novembro. Foi convocada uma reunião com dirigentes do Infarmed para as 16h mas, minutos depois, quando Maria do Céu Machado se sentou no carro, já havia notícias na rádio de um comunicado da Câmara do Porto a falar na mudança. “É como todas as notícias de surpresa, até cairmos em nós, há uma fase em que se fica com uma espécie de anestesia, de ´isto não pode ser verdade'”, conta a responsável, em entrevista ao Público.
Com a informação tornada pública, através de notícias na rádio e nos jornais, o ministro voltou a ligar para que se antecipasse a reunião das 16h — uma reunião que acabaria por durar cinco minutos, com o ministro a pedir que não lhe fizessem perguntas porque não sabia “responder a nenhuma”. Os trabalhadores ficaram em choque: “na tarde e no dia seguinte ninguém fez nada no Infarmed”, revela Maria do Céu Machado.
Nos contactos que se seguiram, nos dias posteriores, “o senhor ministro disse que percebia, de certa forma, que isto era uma notícia surpresa e que não era uma decisão, era uma intenção. Várias vezes repetiu isso“, garante a responsável, que conta que nunca foi consultada sobre uma mudança para o Porto mas que, de facto, se recorda de num almoço no Porto, algum tempo antes, o ministro ter atirado: “e se o Infarmed fosse para o Porto?”. Maria do Céu Machado tomou isto como uma piada.
Sobre a hipótese de apenas o conselho diretivo ir para o Porto, mantendo-se os serviços em Lisboa, Maria do Céu Machado sublinha que “o Infarmed é coeso e temos uma enorme preocupação na articulação entre serviços. O laboratório que garante a qualidade articula-se com várias áreas. Se pode ir o conselho diretivo? Temos reuniões diárias com muitos dos dirigentes, pois as nossas propostas para decisão da tutela significam milhões de despesa do serviço nacional de saúde. Se o conselho diretivo for apenas para andar em almoços e jantares, então pode estar em qualquer lado”.
Mudança do Infarmed para o Porto já estava prevista há muito tempo?
