Os alunos portugueses do 4.º ano pioraram o desempenho a leitura entre 2011 e 2016, baixando de 541 para 528 pontos (menos 13 pontos), de acordo com o Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS), uma avaliação internacional que incide sobre a compreensão da leitura. E Portugal não só piorou o desempenho como foi o país da Europa que mais caiu e o segundo que mais piorou o resultado (o que mais piorou foi o Irão), se se tiver em conta os 50 países em análise.
Este resultado atira Portugal para a trigésima posição — um lugar partilhado com a vizinha Espanha (que obteve a mesma pontuação) e apenas acima da França e da Bélgica no campeonato europeu, num ranking liderado pela Rússia (581 pontos) e por Singapura (576). Em 2011, Portugal tinha conseguido ficar nos 19 países com melhor desempenho.
Nos 50 países em análise, só 16 pioraram o desempenho nos últimos cinco anos. Na Europa, além de Portugal, também a França (menos nove pontos), a Dinamarca (-7), a Bélgica francesa (-9), a Alemanha (-4), a Finlândia (-2) e a República Checa (-2) pontuaram pior.
Olhando para as duas dimensões em análise nesta avaliação — a literária e a informativa — Portugal pontuou de igual forma nas duas (528 pontos em ambas), ao contrário do que tinha acontecido em 2011, em que os alunos portugueses tinham sido melhores na informativa (544 pontos) do que na literária (538). Nesta edição do PIRLS, além de Portugal só mesmo Itália igualou resultados nas duas finalidades. Os restantes países pontuaram melhor numa ou noutra.
À margem da apresentação dos resultados do PIRLS, o secretário de Estado da Educação, João Costa, fez questão de lembrar que os alunos que foram submetidos a esta avaliação foram aqueles que iniciaram o primeiro ciclo em 2012/2013 e referiu que estes resultados “confirmam algumas previsões que tinham identificado algumas políticas negativas tomadas relativamente ao primeiro ciclo, em particular o fechamento das leituras, o carácter prescritivo de leituras, o foco muito grande em produtos e não no desenvolvimento da leitura e uma despreocupação com a diversidade do que se lê”.
“[Os resultados] confirmam algumas previsões que tinham identificado algumas políticas negativas tomadas relativamente ao primeiro ciclo. O que importa é agir”, afirmou o secretário de Estado da Educação.
Perante a queda nos resultados, sublinhou o governante, “o que importa é agir”. João Costa lembrou “o trabalho no plano da promoção do sucesso escolar” que está em marcha e que “se traduz em ações nas escolas”, apontou ainda para as provas de aferição e a “identificação, em conjunto com peritos, das aprendizagens essenciais”. “É preciso reorientar a ação para trabalhar o processo e aí não estamos preocupados se lemos esta ou aquela obra. É preciso gostar muito do que se lê na escola para se aprender a ler bem”, acrescentou o responsável, garantindo que tal não implicará alterações nem revogações do currículo, “mas concentrar no essencial para promover aprendizagens efetivas”.
E nem o facto de serem aqueles que dizem mais gostar de ler (72% dos avaliados), nem de serem dos que têm mais horas por ano dedicadas à aprendizagem da leitura (301 horas) faz com que os alunos portugueses apresentem um bom desempenho. Dos 4.642 avaliados, apenas 7% conseguiram alcançar um “desempenho avançado” em 2016, menos dois pontos percentuais quando comparado com os resultados de 2011. Portugal foi um dos seis países em 50 que baixaram a fatia de alunos no nível desempenho máximo (os outros foram Estados Unidos, Israel, Dinamarca, França e Nova Zelândia), ainda assim, no cenário europeu, ficou acima de Espanha (6%), Noruega (5%) e França (4%). Em Singapura, 29% dos alunos participantes obtiveram desempenho avançado, na Rússia 26% e na Irlanda do Norte 22%.
Aliás, o tempo dedicado à leitura nas escolas para não ter correlação com o desempenho dos alunos. Os alunos na Rússia e na Singapura, que são os que se saíram melhor no retrato, têm, respetivamente, 171 horas e 124 horas dedicadas à leitura.
Olhando para os géneros, Portugal é, ex aequo com Macau, o país onde se regista uma menor diferença de desempenho entre rapazes e raparigas (apenas um ponto de diferença), com as raparigas a pontuarem melhor, como é tendência na maioria dos países (48 em 50).
Portugal é dos países que mais mitiga os efeitos socioeconómicos
A Associação Internacional que promove este estudo, nas conclusões da mais recente avaliação, escreve que os melhores desempenhos estão associados a mais recursos em casa (como livros, apoio ao estudo, aparelhos digitais, pais que trabalham e que gostam de ler). E vem confirmar que os melhores leitores são os alunos que começam a aprender a ler mais cedo, seja em casa, seja na pré-primária.
Também sem surpresa, a IEA conclui que as crianças têm melhores desempenhos em leitura se estudarem em escolas frequentadas por alunos provenientes de meios socioeconómicos favorecidos. Aqui Portugal não foge à regra: os alunos que frequentavam escolas com um contexto menos favorecido (42% do total) obtiveram uma pontuação média de 521 pontos, menos 22 pontos do que os 14% que frequentavam escolas inseridas em meios favorecidos (543 pontos). De sublinhar porém que esta é das menores diferenças registadas na Europa: só na Eslovénia (9 pontos de diferença), Itália e Dinamarca (16 pontos) e Noruega (17 pontos) se conseguiu mitigar mais o efeito do contexto socioeconómico.
A instituição que desenvolve o PIRLS assinala como “preocupante” o facto de se ter registado uma queda nas atitudes positivas dos pais em relação à leitura em 31 dos 50 países em análise. Em média, em 2016, só os pais de 32% dos estudantes gostavam muito de ler, contra 17% que não gostavam. Portugal pontuou ligeiramente melhor que a média: 35% dos pais gostavam muito de ler e 15% não gostavam, sendo que os filhos dos primeiros pontuaram melhor (546 pontos) do que os dos segundos (510 pontos).
22% dos alunos cansados e 14% com fome todos os dias
Alunos mais cansados e com fome pontuaram pior no PIRLS. Em média, 26% dos avaliados disseram ter fome todos os dias ou quase todos os dias e 32% revelaram-se cansados todos ou quase todos os dias.
Em Portugal, 22% dos alunos portugueses disseram sentir-se cansados e 14% com fome diariamente ou quase diariamente. Os resultados destes alunos foram piores do que aqueles que aqueles que responderam nunca estar cansados nem nunca ter fome. Curiosamente, no caso do cansaço, a diferença é mínima — 520 pontos no primeiro caso contra 522 no segundo — e aqueles que se disseram sentir cansaço às vezes pontuaram até melhor (536 pontos) do que os que disseram nunca estar cansados.
O Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS) é uma avaliação internacional sobre a compreensão da Leitura dos alunos do 4.º ano, desenvolvida pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA). A avaliação é feita de cinco em cinco anos e esta é a quarta edição, tendo Portugal participado nas últimas duas.
4.642 alunos avaliados
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Participaram no PIRLS 2016 50 países e 11 outros participantes, num total de 319 mil alunos do 4.º ano, 11 mil escolas e 15 mil professores. Em Portugal os testes foram aplicados entre 1 de fevereiro e 19 de março de 2016 em 218 escolas e abrangeram 4.642 alunos, segundo o IEA.
Neste teste, composto por um conjunto de cadernos, com vários itens, é avaliada a capacidade de ler de uma maneira abrangente, o que inclui a capacidade de interpretar e adquirir o que se lê, refletir, avaliar e fazer uso da informação apreendida para alcançar determinadas metas individuais e sociais. Essa avaliação é feita tanto ao nível da experiência literária como da informativa.
Este ano, pela primeira vez, foi também avaliado o desempenho dos alunos ao nível da utilização do computador. Foram 14 os países a participar no ePIRLS, entre os quais Portugal. Os alunos que demonstraram maior capacidade para integrar informações consultadas em páginas na Internet foram os naturais de Singapura, sendo que os portugueses ficaram em antepenúltimo lugar na lista, com 522 pontos, menos cinco do que no PIRLS. Dos 14 países, oito pontuaram melhor do que no teste de avaliação da leitura, quatro pontuaram pior e o Canadá obteve a mesma classificação. Em Portugal, participaram neste teste 4.558 alunos.
As más notícias ao nível da leitura contrastam com os melhores resultados obtidos a matemática, e confirmados no final do ano passado por outro estudo internacional — o Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) — que avaliou o desempenho dos alunos do 4.º (e do 8.º ano) de escolaridade a matemática e ciências e que foi aplicado no final do ano letivo de 2014/2015. Num ranking de 49 países e regiões, Portugal (com 541 pontos) ocupou a 13ª posição, tendo subido duas posições face a 2011, e ficando à frente de países como a Finlândia e a Holanda.
Alunos do 4.º ano estão melhores a matemática e até ultrapassaram a Finlândia
(Artigo atualizado pela última vez às 12h13 com declarações do secretário de Estado da Educação)