Foram descobertas duas variantes de genes que parecem ser mais comuns em homens homossexuais do que em homens heterossexuais, anunciou a Universidade de North Shore (Illinois, Estados Unidos) num artigo da Nature. É a primeira vez que uma equipa de cientistas anuncia ter identificado genes individuais que podem influenciar a forma como a orientação sexual se desenvolve em rapazes e homens ainda durante a gestação e ao longo da vida. Mas o estudo já está a ser alvo de críticas.

Os cientistas envolvidos na investigação falam de mais uma prova de que a orientação sexual pode ser parcialmente determinada pela biologia, uma hipótese que está em cima da mesa desde os anos oitenta mas que nunca foi irrefutavelmente confirmada. Em 1993, por exemplo, um estudo sugeria que há variações genéticas no cromossoma X nos homens que continham informação sobre a orientação sexual do indivíduo. Dois anos mais tarde, um outro estudo dizia que essa informação também podia ser encontrada numa determinada região do cromossoma 8. Em 2014, esses resultados foram alcançados outra vez num estudo com gémeos em que um deles era homossexual e outro era heterossexual noticiado pela New Scientist.

Os estudos são antigos, mas este acrescenta algo novo: nenhuma das investigações anteriores tinha apontado o dedo a genes específicos que pudessem transportar informações sobre a orientação sexual de um homem. Desta vez, a equipa liderada por Alan Sanders diz tê-las encontrado depois de comparar o ADN de 1.077 homossexuais com o de 1.231 heterossexuais. Ora, o ADN é uma cadeia parecida com uma escada espiral: cada um dos degraus é composto por duas bases emparelhadas que podem ser A, T, C e G (adenina, timina, citosina e guanina). O que estes cientistas fizeram foi traduzir todo o genoma destes homens, compará-los e procurar por bases que sejam diferentes. E sugeriram ter descoberto que há dois genes cujas variantes parecem ter alguma relação com a orientação sexual.

De acordo com o estudo, os dois genes — o SLITRK6 e o TSHR — situam-se nos cromossomas 13 e 14. O cromossoma 13 atua no diencéfalo, uma parte do cérebro que contém o hipotálamo: Simon LeVay, que em 1991 lançou um estudo a dizer que o hipotálamo de homossexuais e heterossexuais podem ter tamanhos diferentes, diz que o gene SLITRK6 fica ativo pouco tempo antes do nascimento da pessoa e que essa pode ser “uma altura crucial para a diferenciação sexual desta parte do cérebro”. O segundo gene, TSHR, fica no cromossoma 14, que é principalmente ativo na tiroide. Segundo o estudo, um problema com este gene pode causar Doença de Graves, uma condição genética que um estudo de 2014 diz ser mais comuns em homossexuais. No entanto, estes resultados nunca foram confirmados pela comunidade científica e necessitam de estudos mais aprofundados para entender a sua veracidade.

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Alan Sanders deixa uma ressalva. É que ter estas variações genéticas não significa que se é homossexualidade mas, segundo ele, é mais provável que sim: “Provavelmente existem vários genes envolvidos, cada um com um efeito bastante baixo. Haverá homens que têm a forma de gene que aumenta a probabilidade de ser gay, mas não serão homossexuais”. Sobre a homossexualidade em mulheres, os estudos ainda são muito escassos.

Em comunicado de imprensa, Ilan Dar-Nimrod, cientista da Universidade de Sidney, diz que “como esta pesquisa transcende a ciência, ela deve ter em conta os efeitos mais amplos que ela tem no discurso público”: “Espera-se que manchetes enganosas e sensacionais como “cientistas descobrem genes homossexuais” sejam uma coisa do passado entre jornalistas informados, cientes de que igualar os genes de uma pessoa à sua essência podem traçar maiores linhas de divisão entre indivíduos baseados na sua orientação sexual”, escreveu.

Também Nina McCarthy da Universidade do Ocidente da Austrália disse que “sabemos por estudos familiares que os genes podem desempenhar um papel na orientação sexual masculina”, mas “é importante sublinhar que a associação não implica causa”: “Como a homossexualidade não é enfaticamente uma doença, os benefícios potenciais de tentar entender melhor a biologia subjacente da homossexualidade permanecem, para mim, pouco claros”, opinou a especialista em genética. Brendan Zietsch e Vincent Harley, um cientistas de Queensland e outro de Victoria, sublinham que o estudo envolve uma população demasiado pequena para tirar conclusões globais sobre todo o universo de homens homossexuais. Além disso, por todos os participantes serem europeus, os resultados podem corresponder à verdade global.