“Pai, aquelas meninas fizeram “like” ao nosso carro!” O episódio insólito aconteceu durante um passeio com os miúdos, quando passámos por um grupo de adolescentes à boleia, na beira da estrada. A semelhança entre o gesto de pedir boleia e o símbolo mais perseguido no mundo, leia-se nas redes sociais, pode ajudar a promover novas formas de mobilidade sustentável como o Ridesharing, cuja experiência pode ser tão surpreendente como eficaz.
Há dias fui a São Domingos de Rana para almoçar com clientes e, ao chegar ao restaurante, apercebi-me que tinha furado um pneu. À tarde tinha agendado uma reunião na zona da Av. da Liberdade, em Lisboa. Sem tempo para mudar a roda ou pedir assistência, lembrei-me que ouvi na rádio o anúncio de uma nova plataforma de partilha de viagens. Peguei no smartphone e encontrei a app Via Verde Boleias.
Descarreguei a aplicação, fiz o registo e comecei logo a procurar boleia para Lisboa. Tudo em menos de dois minutos e sem qualquer custo. Para criar o perfil basta indicar o nome e contactos, publicar uma fotografia e adicionar os dados do cartão de crédito, ou de débito, que será usado para fazer o pagamento como passageiro. Para oferecer boleias é necessário introduzir o IBAN na área do condutor, de modo a receber pagamentos.
Introduzo o local onde me encontro e o destino, bastando os concelhos, neste caso Cascais e Lisboa. Há um condutor que vai sair de São Domingos de Rana às 14:30 e regressa algum tempo depois. Parece-me perfeito, até porque o ponto de partida indicado com precisão pelo GPS é o parque de estacionamento de uma superfície comercial, perto do local onde fui almoçar. No perfil do utilizador posso ver uma fotografia do condutor e também do automóvel, o que ajuda a identificar a boleia quando chegar.
Reservo o lugar e aguardo a confirmação por parte do condutor. O processo pode ser definido como automático (a reserva é imediatamente aceite) ou manual (a reserva tem que ser confirmada pelo condutor, dentro de um prazo determinado), condições que surgem no ecrã da aplicação com grande clareza. Depois de confirmada a boleia ficam disponíveis os contactos dos utilizadores, para eventuais ajustes de última hora.
Já com a viagem garantida, desloco-me a pé com uma mala de tamanho médio, onde transporto uma maquete que vou entregar na Avenida da Liberdade. Além de saber qual é a viatura, também sei qual é o tamanho da bagagem admissível, definido pelo condutor através de um código alfabético semelhante ao da roupa (S, M ou L). De igual modo também é possível indicar se é permitido comer ou fumar.
Uma experiência WYSIWYG (What You See Is What You Get)
À medida que me aproximo vou verificando, através da app, a minha deslocação e a do condutor em direção ao ponto de encontro. Poucos minutos depois das 14:30, mas dentro da tolerância anunciada, entro no carro do Martim e iniciamos a viagem. Recebo uma notificação para confirmar se já estou no carro, ou se o condutor não apareceu. O condutor também recebe uma mensagem de confirmação, mas neste caso em relação ao passageiro. Este é apenas um dos aspetos que vai garantir a eficácia do serviço à medida que o sistema de classificações aumentar com o número de utilizadores.
O cancelamento de boleias por parte do condutor ou a ausência dos passageiros, juntamente com a avaliação em cinco níveis e os comentários, vão consubstanciar a reputação de cada utilizador do Via Verde Boleias. As classificações ficarão sempre visíveis no perfil de cada utilizador. Afinal de contas, é a informação disponível que vai gerar maiores índices de confiança, transmitindo segurança no momento de escolher com quem vamos partilhar a viagem. Além das boleias a la carte, a app oferece a possibilidade de criar grupos de partilha para empresas, universidades e eventos, permitindo organizar boleias de forma regular entre colegas de trabalho nas deslocações diárias.
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O automóvel é igual ao anunciado e o condutor também, o que facilita o reconhecimento e aumenta a sensação de confiança. Seguimos pela A5 em direção a Lisboa, com o trânsito habitual àquela hora. Em ambiente descontraído, vamos partilhando opiniões sobre a urgência da mudança comportamental para um futuro sustentável. Enquanto dura o pára-arranca, aproveito o facto de não estar ao volante para conferir os últimos detalhes da apresentação e enviar umas notas rápidas por email.
Chegamos ao destino e, alguns minutos antes da hora marcada, entro na empresa para entregar a maquete e apresentar o projeto. Com mais tranquilidade, sem me preocupar com estacionamento nem parquímetros, ou pior, grampos e reboques. Com mais economia, de tempo e de dinheiro. E com menos emissões poluentes, afinal veio apenas um carro.
Na viagem de regresso, com o fluxo de trânsito a aumentar em direção a Cascais, a economia de tempo foi ainda mais percetível Enquanto íamos conversando sobre os benefícios desta economia da partilha, contámos centenas de automóveis sem passageiros nas diversas filas de trânsito. Olhando para a dimensão média dos veículos, dá para contar uma pessoa por cada quatro metros de fila. É um enorme desperdício de espaço, além da consequente poluição ambiental.
Ecológico e mais barato
Transportar passageiros que ajudam a cobrir os custos de combustível e de portagens, e ainda socializar pelo caminho, é uma opção muito atrativa Com o Via Verde Boleias, uma viagem de Lisboa ao Porto pode custar apenas 16 euros. É menos de metade do custo que teria ao viajar sozinho em carro próprio. Num veículo familiar médio, a gasóleo, este trajeto feito por auto-estrada ronda os 50 euros. Sem ter em conta as promoções de venda antecipada, até porque na app podemos reservar boleias com uma hora de antecedência, tanto o comboio (24,30€), como o autocarro (20€) e o avião (100€) saem a perder no comparativo.
O preço de uma boleia não pode ser definido livremente. Há uma estimativa que toma como referência o valor de 0,05€/Km, mas cada utilizador pode aumentar ou reduzir o preço final em 50%. A plataforma foi desenvolvida na ótica da partilha de custos, onde não pode haver lucro.
Apenas pode ser faturado o valor da comissão de serviços bancários, respeitante à transação com cartões, que até 28 de fevereiro vai continuar a ser oferecida pela Via Verde Boleias. O restante valor, que não pode ser faturado corresponde à parcela assumida pelo passageiro como contribuição para os custos totais da viagem, suportados pelo condutor.
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Quem fizer já o registo no Via Verde Boleias vai receber um vale de cinco euros em combustível Galp, quando realizar a primeira viagem como condutor. Depois passa a beneficiar de um desconto de 0,06€/L em qualquer abastecimento até ao máximo de 50L, sempre que partilhar viagens. Como passageiro, tem direito a um voucher no valor de 5€ em compras no Pingo Doce, numa oferta limitada às primeiras 1000 boleias realizadas.
Para 2018 estão previstas algumas novidades como a integração com o Facebook para partilhar viagens e a possibilidade de criar boleias recorrentes, no caso das deslocações pendulares entre a residência e o trabalho. Outra novidade será a disponibilização de um chat para passageiros e condutores comunicarem. No futuro a aplicação procurará dar a conhecer aos utilizadores o seu impacto ambiental medido em emissões poupadas. Tudo com o objetivo de fazer despertar o compromisso da economia da partilha, estimulando a tomada de consciência individual sobre o impacto das decisões que tomamos no dia a dia.