Mariano Rajoy já fez as “reflexões sobre a noite eleitoral” na Catalunha. Calmo e confiante, Rajoy começou por destacar o facto deste ato eleitoral ter corrido “dentro da lei”e “dentro da normalidade e sem problema”. Depois de ressalvar que os movimentos independentistas tem vindo a perder representação, Rajoy sublinhou que “ninguém pode falar pela Catalunha sem representar toda a Catalunha.” “A Catalunha não é monolítica, é plural”, continuou, antes de acrescentar que é necessário ver “essa pluralidade como uma virtude, uma riqueza” que deve ser “respeitada” e “cuidada”. E acabou a rejeitar eleições antecipadas: “Não tenho nenhuma intenção de adiantar as eleições gerais”.
O chefe do governo espanhol lamentou ainda o facto de os independentistas terem tido a maioria: “O negativo foi não termos tido os números que queríamos”.
O resultado eleitoral do passado 21 de dezembro pode ter culminado com a vitória do Ciudadanos, partido político mais próximo de Madrid, contudo, a votação revelou que uma maior fatia da população catalã se revê no ideal independentista (representado pela CUP, o JuntsxCAT e o ERC-CatSí. Representa, no total, 47,5% dos votos). Sobre esta orientação política, Rajoy destacou que “a fratura que o extremismo exerceu sobre a sociedade catalã é muito grande e vai demorar a sarar”. Dito isto, a necessidade de “reconciliação” é tida como urgente, se bem que sempre orientada pelo “respeito pela lei e por todos:as maiorias e as minorias”.
No geral, a ideia que o líder espanhol quis passa foi que o governo de Madrid “quer oferecer um novo começo na democracia” e a “oportunidade de inaugurar uma nova etapa”, onde o “diálogo construtivo, aberto, realista e sempre dentro da lei” deverá imperar. “Eu confio que a Catalunha vá abrir uma porta ao diálogo e não ao conflito, à cooperação e não à imposição, à pluralidade e não à unilateralidade”.
O respeito à lei é algo que Rajoy não se cansa de referir. Diz que sem isso “não é possível gerar segurança”, “não se trará de volta as empresas que já abandonaram a Catalunha”, e não será possível “compensar as perdas no turismo”. É nesta altura que o Primeiro-Ministro passa a bola: “Cabe aos políticos catalães oferecer as soluções de governabilidade que a sociedade catalã exige. Seja qual for a solução a ter o apoio maioritário, o governo resultante estará como todos antes dele estiveram — submetidos ao controlo da lei”.
Depois de discursar, Mariano Rajoy respondeu a algumas perguntas de jornalistas. Uma das primeiras a surgir — era incontornável — foi se aceitaria o convite de Carles Puigdemont de reunirem-se fora de Espanha para discutir o futuro da Catalunha. O chefe de estado foi peremtório na sua resposta: “Teria de me sentar com a pessoa que ganhou as eleições. Essa pessoa é a Inés Arrimadas”.
Tanto no discurso pós-eleições como no que deu na manhã de 22 de dezembro, Puigdemont ressalvou a vitória sobre o 155, artigo da constituição espanhola que prevê a possibilidade de Madrid poder assumir o controlo das suas regiões. Ora sobre este assunto, Rajoy afirma que “o artigo 155 foi aplicado como devia ser”, “com o consenso da maioria”. Uma das perguntas que lhe foram lançadas prendeu-se com este preciso artigo: “Não aceito que salte por cima da Constituição e da ley”. Mas e alterar o que ela diz no artigo 155? “Uma reforma da Constituição deve ser feita com conhecimento do que se está a fazer. Se é para suprimira a unidade nacional, é evidente que não se pode conta comigo”, acrescenta antes de terminar dizendo que “o artigo 155 deixará de ser exercido assim que esteja definido o novo Governo Catalão.”
Rajoy despediu-se depois de afirmar que “não está satisfeito”. “O esforço de Xavier García Albiol [representante catalão do PP] foi considerável, mas o resultado não foi o esperado.”