O multimilionário George Soros, que fez fortuna a especular contra a libra na chamada “Quarta-feira negra”, confirma — com “orgulho” — que fez um donativo substancial à campanha Best for Britain, que quer impedir que o Brexit aconteça. O donativo foi noticiado pelo The Telegraph na semana passada, tendo causado forte controvérsia, e o multimilionário de 87 anos decidiu escrever uma carta aberta para o The Mail on Sunday, para se defender das críticas e das insinuações.

“Sou um apoiante orgulhoso da Best for Britain, um grupo que quer que o Reino Unido continue a ser um membro da União Europeia. Considero que o Brexit será um erro de proporções trágicas”, confirmou Soros, que terá entregado 400 mil libras à organização ativista que luta contra a saída da UE. Fê-lo, segundo o próprio, por amor ao Reino Unido — e por ter perfeita noção, pela sua infância na Hungria sob jugo do regime comunista, da importância de viver numa “sociedade aberta” e não numa “sociedade fechada, onde os donos do poder exploram as pessoas”.

“Sociedade aberta”, em inglês Open Society, é precisamente o nome da fundação criada por Soros para intervir no combate contra a repressão política no mundo.

Criticando a decisão de sair da União Europeia, George Soros lamenta que “este processo vá transformar o Reino Unido e a Europa de amigos em inimigos, pelo menos enquanto decorrer este período transitório”. Soros defende que “antes do referendo, o Reino Unido estava a ter maiores sucesso económico do que o resto da Europa. Mas agora isso inverteu-se, com as economias continentais a crescerem de forma robusta, enquanto que o Reino Unido fica para trás”.

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Convocar um referendo foi um erro fatal. A experiência mostra que os referendos levam, muitas vezes, a decisões erradas. Incentivadas por agitadores sem escrúpulos, as pessoas usam os referendos para expressar insatisfação em relação ao atual estado de coisas, em vez de pensarem sobre as consequências. Só porque a situação atual não é satisfatória não quer dizer que não pode piorar. E isto está a acontecer no Reino Unido.”

Soros antecipa que “o efeito das incertezas criadas pelo Brexit na economia britânica vai tornar-se cada vez mais dolorosamente óbvio, nos próximos seis meses, à medida que o divórcio entrar na fase de maior confronto”. O Reino Unido vai sair a perder, e a Europa também — Europa que devia estar preocupada em resistir a “inimigos externos” como a Rússia de Vladimir Putin.

No que diz respeito à sociedade britânica, Soros, que tem 87 anos, diz que pensa muito nos “jovens que vão viver num futuro que eu nunca verei” — “as pessoas com menos de 35 anos votaram de forma esmagadora para Ficar na União Europeia, e só nas pessoas com mais de 55 anos é que houve uma maioria de votantes pelo Brexit“. Isto faz com que, na leitura de Soros, “os velhos se tenham sobreposto aos jovens, que terão de viver com as consequências do Brexit nas próximas décadas”. Este é um fator que “alimenta a deceção dos jovens em relação à democracia”, não obstante, acredita o filantropo, um dia o Reino Unido voltar a candidatar-se para regressar à União Europeia.

Ainda assim, na opinião de Soros, a opinião pública está cada vez mais a mover-se no sentido da permanência, pelo que é preciso “acelerar” o processo e chegar a um “ponto de inversão” nos próximos seis a nove meses. “O eleitorado precisa de obrigar os seus deputados a dar-lhes a coragem de revoltar-se contra a liderança dos partidos, e o eleitorado precisa de estar motivado não apenas para votar mas, também, para tomar um papel ativo na política”, pede Soros.