[este artigo foi originalmente publicado a 26 de fevereiro, quando Cláudia Pascoal e Isaura passaram à final do festival, atualizado depois da vitória]
Esta história começou com um vídeo, passou pelo Facebook e teve um ponto alto no Pavilhão Multiusos de Guimarães, no domingo, 4 de março. Isaura compôs “O Jardim” e procurava uma intérprete. “Andava maluca porque não encontrava ninguém”, conta ao Observador. Acabou por encontrar em Cláudia Pascoal. A rede social foi o meio de contacto e esta noite, em palco, as duas carimbaram juntas a passagem à final do Festival da Canção, com uma performance que lhes valeu a terceira pontuação mais alta das duas semi-finais (o tema somou 20 pontos entre júri e público, ficando apenas atrás dos registos obtidos por Diogo Piçarra, com 24 e Peu Madureira/Diogo Clemente, com 22).
Eu andava maluca porque não encontrava ninguém com a voz que queria. Queria uma coisa muito específica que tinha na cabeça até que finalmente, depois de tantos vídeos que vi de tantos intérpretes, mostraram-me a Cláudia. Foi amor à primeira vista.”
Assim que viu um vídeo da cantora (que já passou pelos programas “Ídolos” e “The Voice Portugal”), Isaura, que irá lançar o seu primeiro álbum “dentro de um mês”, demorou “dois minutos” a contactá-la, através de uma “mensagem no Facebook”. Disse-lhe: “Por favor, eu preciso que tu cantes a minha canção no Festival”. Afinal, “era a voz que procurava e acabou por se revelar uma pessoa com quem me dou muito bem e que tem um carisma muito especial”.
Cláudia interpretou a canção com tanta emoção que, no final, até acabou por chorar. “Honestamente até fiquei um bocado triste porque eu gosto tanto da música da Isaura que acho que não fiz jus ao tema. Não queria emocionar-me a ponto de chorar porque acho que desvaloriza um bocadinho a música. Queria cantá-la direitinha, como ela a compôs”. A autora, contudo, não se importou nada e até se permite discordar: “Aquilo que a Cláudia fez com esta canção deixa-me muito contente porque acho que conseguiu transformar o que eu queria dizer numa coisa ainda mais bonita”.
Fiquei muito surpreendida com o convite mas também muito contente e agradecida. O leque de compositores que aqui está são os que eu ouvia quando era miúda. O respeito é gigante e ter a oportunidade de estar aqui entre eles, tentar representar Portugal na Europa e fazer uma canção que vai ficar na história do festival, porque é isso que acontece com as canções que aqui passam, as pessoas recordam-se delas, é muito gratificante. Tive de aceitar instantaneamente”, disse Isaura ao Observador.
Curiosamente, os registos das duas até são diferentes. Isaura faz a sua música nos corredores da pop eletrónica alternativa, Cláudia Pascoal compõe sobretudo jazz. Interpretar a canção “O Jardim”, uma música nostálgica e melancólica (“Agora que não estás / rego eu o teu jardim”, ouve-se na canção), foi decisão fácil para a cantora, natural de Gondomar: “Admiro muito o trabalho da Isaura e é uma música tão simples com uma mensagem tão forte que toda a gente se relaciona, independentemente do estilo. Sinto uma grande alegria por o público ter percebido a mensagem e ter-s relacionado com ela. Agora é desfrutar de Guimarães, de pisar o mesmo palco de outros grandes artistas”.