Tudo começou em 1966 quando Ernesto Lourenço Estrada fundou a Sofalca – Sociedade Central de Produtos de Cortiça, em Abrantes. O negócio evoluiu e tornou-se especialista na produção de aglomerados negros de cortiça expandida, considerada uma boa solução no que toca ao isolamento térmico, acústico e vibrático em materiais de construção, aplicáveis em diferentes espaços, dos infantários aos estúdios de gravação.
Em plena crise de 2012, a empresa decidiu aventurar-se no design e começou logo em grande, numa parceria com Joana Vasconcelos na Bienal de Design em Veneza, e mais tarde com a Carris, lançando em 2014 a Blackcork, uma marca de peças de design contemporâneo em cortiça, sob direção criativa do designer Toni Grilo.
Um ano depois, fruto de algumas experiências com desenho generativo – um tipo de desenho que não se repete, numa lógica de azulejo – a Sofalca deu mais um passo no mercado e criou a Gencork. “Fazemos paredes generativas que servem para fazer revestimento acústico, têm um efeito 3D e podem ser personalizadas, o cliente escolhe os motivos e as medidas e fazemos uma simulação do desenho da parede, consoante a luz”, explica Paulo Estrada, CEO da Gencork e um dos seis netos do fundador da Sofalca, atualmente proprietários do negócio da família.
Restaurantes, hotéis e algumas encomendas em espaço público, têm sido os cenários destas paredes feitas em materiais 100% naturais e sustentáveis, como é o caso da cortiça, vapor de água e biomassa. “Além de sustentável, é renovável, pois aparece na floresta de nove em nove anos. Somos 95% auto-sustentáveis energeticamente, pois queimamos os desperdícios dos processos de limpeza da cortiça para obter uma matéria prima mais limpa nesta produção”, sublinha o responsável.
Com diferentes desenhos e relevos possíveis, as paredes da Gencork não têm um prazo de validade, “são eternas”. “Uma parede destas não se deteriora, tem uma grande durabilidade e resistência. No entanto, as peças que fazemos para jardins e piscinas estão mais expostas e por vezes os gatos gostam de afiar as unhas neste tipo de material.”
Tudo é feito na fábrica em Abrantes, graças a uma equipa com cerca de 35 pessoas, e exportado para mercados como França, Bélgica, Itália, Japão ou Médio Oriente. A aplicação das paredes é feita de forma simples, com parafusos, e cada metro quadrado pode custar 280 euros.
Cinco anos, um prémio, uma pandemia e um desafio
No ano em que celebra cinco anos de vida, a Gencork decidiu candidatar-se ao Red Dot Award, tendo sido distinguida no início do ano com um dos prémios principais. A peça premiada foi o Corkwirl, um padrão otimizado, concebido há dois anos, que mimetiza a deslocação em espiral (whirl movement) que acontece na água ou na areia, por exemplo, sob ação do vento, “um jogo de curvas que gera uma superfície orgânica inspirada na natureza e modificada pelo homem.
Brimet Silva, diretor criativo da Gencork, explica que se trata de “um padrão generativo, fluído e dinâmico que explora todas as potencialidades térmicas, acústicas, estéticas e sustentáveis do aglomerado negro de cortiça”. O Corkwirl pode ser replicado noutras peças, sendo depois ajustado e adaptado a cada encomenda. O Red Dot não é o primeiro prémio internacional da marca, que em 2016 conquistou o Les Descouvertes, na Maison & Object, em Paris, e o Green Product Award, e em 2017 o German Design Award.
Durante a pandemia, a Gencork aproveitou para apostar na sua comunicação online e avançar com alguns projetos que tinha na manga, como uma parede de 80 metros quadrados para um spa na Áustria ou uma de 153 metros quadrados a ser inaugurada brevemente no Porto. Esta última será, segundo o CEO Paulo Estrada, “o maior desafio da marca”, composto um desenho único, 350 placas de cortiça, todas diferentes. “Ninguém fica indiferente perante uma parede destas”, promete o responsável, que reconhece a cortiça como um material frágil e com limitações, mas cheio de possibilidades.