Marcelo Rebelo de Sousa gosta de tomar decisões quando elas se tornam inevitáveis. Se assim é, como salienta ao Observador um ex-ministro e ex-dirigente do PSD, será agora mais fácil ao comentador político assumir o sim e avançar para a corrida a Belém. Na quinta-feira, Pedro Santana Lopes assumiu formalmente que não será candidato em circunstância nenhuma. Agora só falta Rui Rio desistir.
O anúncio de Santana apanhou de surpresa aqueles a quem mais agradou: os apoiantes de Marcelo. “É inteligente da parte dele. Percebeu que só teria chance se Marcelo não fosse candidato”, diz um ex-ministro do PSD que votará no professor catedrático de Direito se este avançar para as eleições presidenciais de janeiro.
A confiança reina pelos lados do antigo presidente do PSD que liderou o partido durante três longos anos de oposição ao popular Governo de António Guterres e que se demitiu por causa de Paulo Portas, então já líder do CDS, e com quem acabou por fazer as pazes. Ao ponto de o CDS estar disposto também a apoiá-lo na corrida a Belém.
Dentro do PSD, apontam uma mudança de atitude de Marcelo nas últimas semanas. Para além de ter começado a dar mais entrevistas, está, como é descrito ao Observador, numa “proatividade completa”. Se normalmente o telemóvel de Marcelo recebe mais chamadas do que aquelas que faz, a proporção está a mudar. “Liga mais e pede coisas às pessoas. E mostra-se mais disponível para comparecer em eventos”, conta fonte social-democrata. “Marcelo será sempre candidato. Agora sem Santana, e quer Rio avance ou não, Marcelo será sempre candidato”, diz outro dirigente.
“Já perguntei aos filhos e netos o que pensam sobre as presidenciais”, dizia há duas semanas o professor catedrático de Direito em entrevista ao DN, aproveitando para fazer um elogio ao rival Rui Rio. “Olhando para as alternativas a Passos Coelho, com exceção de Rui Rio, não há nomes que sejam comparáveis com Pedro Passos Coelho em termos de atividade político-partidária”, considerava, empurrando o ex-autarca na direção da liderança do PSD, num pós-Passos, em vez da estrada para Belém.
Do lado de Marcelo, ninguém se deixa impressionar com as notícias de que Rui Rio está a montar uma estrutura de campanha caso venha a ser necessária. Dinheiro e voluntários para a comissão executiva já estão a ser “acautelados” para o que der e vier. “É uma coisa à Rio”, comenta-se. “Na altura em que Manuela Ferreira Leite avançou para a liderança do PSD também se dizia que Rio já tinha a máquina toda montada para avançar, mas depois não foi. É muito frio e calculista”, diz um dirigente atual do PSD.
Isto porque o comentador da TVI é o preferido dos militantes de direita, segundo as várias sondagens que têm sido publicadas, só tem uma opção: uma campanha rápida e poupada. E precisará de mais? Marcelo anda há vários meses a fazer voltas pelo país, sob o pretexto de estar a participar em festejos dos 40 anos do PSD, tem semanalmente o palco da TVI onde chega a milhares de pessoas de um modo muito mais fácil e direto do que qualquer outro candidato presidencial. Há dias, Marcelo marcou o timing para uma decisão para novembro/dezembro. Pode vir a fazer como Cavaco Silva – como toda a gente contava que fosse candidato, só o anunciou formalmente a 20 de outubro e não foi tardio pois ganhou as eleições.
Sobre Rio, os amigos de Marcelo vão lançando farpas, consideram que corre um grande risco de ser candidato, aparecer Marcelo e depois aquele não passar na primeira volta das eleições, o que seria uma humilhação. (Se nenhum dos candidatos obtiver 50% mais 1 dos votos, então terá que haver obrigatoriamente uma segunda ronda apenas com os dois candidatos mais votados). O jogo é de toca e foge pois, no fundo, o que um lado e o outro gostariam mesmo era que o putativo adversário desistisse.
Visto pelos olhos de quem gosta de Rio
Do lado do ex-autarca do Porto que hoje se dedica a consultadoria privada, espera-se agora o take 2 de Santana. “Ele é intuitivo mas sabe fazer render as atenções”, afirmou ao Observador fonte próxima do ex-primeiro-ministro e ex-autarca de Lisboa, referindo-se ao (inevitável) anúncio de quem irá aquele apoiar agora na corrida presidencial.
No último congresso do PSD, em fevereiro de 2014, Santana estava disposto a participar no jogo de Passos para destruir as ambições presidenciais de Marcelo, que começou com o perfil traçado na moção em que criticava aqueles que descrevia como “cataventos de opiniões”. Nessa reunião, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Santana iria fazer um discurso a cavalgar as críticas que constavam na moção de Passos – o ambiente e os planos que estavam traçados chocaram, contudo, com a imprevisibilidade de Marcelo. Este dissera que não iria ao congresso mas, aparecendo sem avisar, e antes de Santana subir ao púlpito, conseguiu fazer um discurso emotivo que pôs o Coliseu todo de pé e contra o qual era impossível “malhar”. Foi o momento com M grande do congresso e aqueceu a alma social-democrata fustigada pela austeridade de Passos.
Se Rio avançar, Passos Coelho “não vai ficar indiferente”, afirma ao Observador um dos mais próximos apoiantes do ex-autarca – ou seja, não acreditam que o líder fique calado e não dê o apoio. Isto apesar de Marcelo, Mendes e Santana já terem vindo dizer que o PSD não deve apoiar nenhum candidato na primeira volta das eleições – o que consideram ser provável. Mas aqui há outro fator a ter em conta. Se Passos ganhar as eleições legislativas, ganha também mais força para impor a sua vontade a um partido que é mais facilmente seduzido por uma personalidade como a de Marcelo em vez de Rio.
A lei da rolha que Passos impôs no partido sobre presidenciais – a máxima é “dia 5 de outubro começaremos a pensar nesse assunto” – está a funcionar. A única reação ao comunicado de Santana Lopes foi assumida pela vice-presidente do partido, Teresa Leal Coelho. “O dr. Pedro Santana Lopes é um destacadíssimo elemento do PSD, que já foi primeiro-ministro de Portugal, que muito respeitamos, mas nós neste momento estamos exclusivamente focados nas legislativas e apenas sobre legislativas nós falamos. No dia seguinte às legislativas olharemos para os processos de candidaturas de cidadãos, sejam eles quais forem, à Presidência da República”, afirmou esta sexta-feira, à margem de uma conferência de imprensa sobre o chumbo do Tribunal Constitucional à nova lei dos serviços de informações.
“É normal que quem tem essa vontade, de se candidatar, se esteja a mexer no terreno, a recolher apoios e contactos. Mas têm tido o bom senso de não minar o debate das legislativas”, refere um dirigente social-democrata, desdramatizando as últimas notícias sobre as presidenciais. Ou, numa perspetiva mais cínica, “ao Governo basta fazer-se de morto, tudo o que seja manobras de diversão até são bem-vindas”.