Ao contrário do que acontece à direita, à esquerda não faltam alternativas de voto nas eleições presidenciais do próximo Domingo. No âmbito da esquerda radical, a candidatura mais forte parece ser inequivocamente a de Sampaio da Nóvoa (apoiado oficialmente pelo PCTP-MRPP, pelo Livre e pelo POUS e oficiosamente pela ala mais radical do PS). Fazendo fé nas últimas sondagens, Nóvoa será inclusivamente o mais bem posicionado para disputar uma hipotética segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa, caso este falhe o objectivo de eleição à primeira volta.
Relativamente às outras duas candidaturas apoiadas por partidos de extrema-esquerda, a situação é distinta. Edgar Silva (candidato apoiado oficialmente pelo PCP), aparece nas sondagens com resultados que, a confirmarem-se, seriam muito problemáticos para os comunistas. De facto, ficar novamente atrás do BE e, ainda para mais, com uma votação na casa dos 5% seria um péssimo resultado. Ainda assim, é aconselhável especial cautela na previsão dos resultados de Edgar Silva, já que um cenário de elevada abstenção deverá favorecer o candidato apoiado pelo PCP.
Relativamente a Marisa Matias (candidata apoiada oficialmente pelo BE), as sondagens apontam resultados mais simpáticos e – o que é porventura mais relevante – uma tendência de crescimento. Algumas das sondagens apontam inclusivamente a possibilidade de a candidata bloquista ficar à frente de Maria de Belém, o que seria só por si uma importante vitória simbólica para o Bloco de Esquerda e uma pesada derrota para a ala moderada do PS.
Os eleitores de esquerda moderada insatisfeitos com as principais candidaturas no seu espaço político poderão ainda considerar outras figuras com um passado político ligado ao PS: Henrique Neto (em especial pela sua corajosa e pioneira oposição a José Sócrates), Cândido Ferreira (o mais frontal e assertivo dos candidatos nas críticas a Sampaio da Nóvoa) e Vitorino Silva (o mais genuinamente popular dos candidatos).
Outra alternativa de voto certamente ponderada por muitos eleitores de esquerda moderada será Marcelo Rebelo de Sousa. Pela sua personalidade, pelo posicionamento que adoptou e pela campanha que tem feito, Marcelo é nestas eleições uma opção inteiramente válida para o centro-esquerda. Já se percebeu que a possibilidade da sua vitória não retira o sono a António Costa sendo que, para quem não aprecia Pedro Passos Coelho, a perspectiva de uma vitória esmagadora de Marcelo terá o bónus adicional de deixar a actual liderança do PSD em maus lençóis.
Relativamente a Maria de Belém, que deveria ser a candidatura natural do centro-esquerda, a última semana de campanha revelou-se muito dura. A decisão do Tribunal Constitucional sobre a prova de recursos na atribuição de subvenções vitalícias saiu – por uma quase inacreditável coincidência – na pior altura imaginável para Belém. Embora o grupo de 30 deputados envolvidos inclua apoiantes de Sampaio da Nóvoa e de Marcelo Rebelo de Sousa, o tratamento mediático foi impiedoso e centrado na candidata, devendo ter liquidado as suas esperanças de passar à segunda volta.
O caso junta-se a aliás a uma série de duros ataques contra Belém por parte da ala mais radical do PS ( a título de exemplo, veja-se este violentíssimo texto de Alfredo Barroso) e ao funcionamento a todo o vapor da bem oleada máquina partidária do PS na campanha de Sampaio da Nóvoa.
No próximo Domingo, para além da eleição do Presidente da República, joga-se também uma parte importante do futuro dos partidos políticos portugueses. Não vou tão longe como Carlos Guimarães Pinto que afirma que uma derrota pesada de Maria de Belém corresponderá ao fim do PS moderado, mas é inegável que o posicionamento relativo dos vários candidatos de esquerda nas próximas eleições presidenciais poderá ter um impacto significativo no sistema político português.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa