Desde o passado dia 23, o Opus Dei tem um novo prelado: Mons. Fernando Ocáriz que, até à morte do seu antecessor, tinha sido vigário auxiliar da prelatura. Foi formalmente nomeado prelado pelo Papa Francisco, no próprio dia da sua eleição por representantes dos fiéis da prelatura do mundo inteiro.
A rapidez da eleição, confirmação e nomeação não é de estranhar: há já alguns anos que Mons. Ocáriz governava a prelatura, pois o anterior prelado, D. Javier Echevarria, nele tinha delegado praticamente todas as suas competências, com excepção das que implicavam o exercício da sua condição episcopal. Primeiro, como vigário geral do Opus Dei e, depois, como vigário auxiliar, o P. Fernando Ocáriz já era bem conhecido por Francisco, dada também a grande proximidade, efectiva e afectiva, do Opus Dei a todos os pontífices romanos, nomeadamente o actual papa. É consultor, desde 1986, da Congregação para a Doutrina da Fé e, desde 2003, da Congregação para o Clero. É também membro, há mais de vinte cinco anos, da Academia Pontifícia de Teologia.
Um novo prelado e, talvez, um novo rumo para a prelatura. Ao seu antecessor, Echevarria, se ficou a dever uma muito significativa mudança de estilo, sobretudo no que respeita à nem sempre fácil relação do Opus Dei com as outras instituições eclesiais e com os meios de comunicação social. Como escreveu, a este propósito, John L. Allen Jr., “os entendidos sobre o Opus Dei afirmavam a existência de uma profunda fissura, na instituição, entre uma prática da discrição e uma cultura da transparência, defensora de uma atitude de abertura e de divulgação da vida interna e da filosofia da instituição, na convicção de que a realidade é preferível à mitologia e à ‘lenda negra’ que, entretanto, se tinha difundido”.
John Allen, vaticanista não só não conotado com o Opus Dei como autor de uma obra crítica sobre esta controversa instituição eclesial (Opus Dei, Um olhar objectivo para além dos mitos da realidade da mais controversa força da Igreja católica, Alêtheia 2005), atribuiu ao anterior bispo e prelado um papel determinante nesta abertura: “Como prelado, Echevarria apostou decisivamente na transparência e o resultado foi uma rápida ‘normalização’ do estatuto do Opus Dei dentro da Igreja católica e a correspondente diminuição do nível de controvérsia e de animosidade. Quando Echevarria iniciou o seu mandato, havia ainda muitos bispos católicos que desconfiavam de qualquer iniciativa relacionada com o Opus Dei, mas em 2016 esse temor desapareceu quase completamente. Agora, a grande maioria dos bispos e dos responsáveis da Igreja olham para o Opus Dei como olham para a Cáritas ou para os Salesianos, ou seja, simplesmente como mais uma peça no mobiliário da sala de estar católica”.
É verdade que o Opus Dei foi muito atacado e incompreendido em termos mediáticos e talvez ainda hoje o seja por pessoas menos informadas, ou mal-intencionadas. Muitas das críticas dirigidas contra o espírito e a praxe da prelatura mais não são do que a reedição dos ataques que, em eras passadas, foram igualmente feitos a outras instituições eclesiais, que foram também, a seu tempo, inovadoras, como as ordens mendicantes ou os jesuítas. Segundo Allen, o Opus Dei também teve alguma culpa nessa desinformação, porque tinha “o que muitos consideravam a informação mais disfuncional de toda a Igreja Católica, recusando, por princípio, até mesmo responder a perguntas legítimas e, por essa via, alimentando imagens negativas” da própria instituição.
Graças a Echevarria, a situação inverteu-se totalmente: o Opus Dei deixou de ser a instituição eclesial com pior informação, para ser a que se considera, em Roma e segundo Allen, a melhor. “Na actualidade, a Universidade della Santa Croce, que o Opus Dei dirige em Roma, promove um curso de formação para jornalistas de todo o mundo, que informam sobre o Vaticano e a Igreja Católica, o ‘Church up close’. Provavelmente, qualquer responsável católico que precise de ajuda para resolver problemas de comunicação, a primeira coisa que tem a fazer é telefonar a alguém do Opus Dei. Tudo isto – conclui John Allen – foi o resultado de uma política iniciada e confirmada por Echevarria e que se baseia no princípio: ‘nada temos a ocultar, porque nada temos a temer’”.
Com o novo prelado, uma nova etapa se inicia na história do Opus Dei. De nacionalidade espanhola, como o fundador e os seus dois primeiros sucessores, Mons. Ocáriz nasceu em 1944 em Paris, cidade onde a sua família, de tradição republicana, se exilou, por motivos políticos, durante o franquismo. Mais tarde regressou a Espanha, onde se licenciou em Física, na Universidade de Barcelona. Depois, licenciou-se em Teologia na Universidade Lateranense, em Roma, tendo posteriormente obtido o respectivo doutoramento. Ocáriz é autor de uma notável obra teológica, mas também abordou temas filosóficos, como o seu Marxismo, teoria e praxis de uma revolução, que é, talvez, um dos melhores estudos sobre esta ideologia; e Voltaire, tratado sobre a tolerância.
São Josemaria era sobretudo um carismático e os seus dois primeiros sucessores – os bispos prelados Portillo e Echevarria – foram também mais práticos do que especulativos. Ocáriz poderá enriquecer o carisma fundacional com a sua própria perspectiva filosófica e teológica, por forma a dinamizar o diálogo com a cultura pós-moderna e a potenciar a acção apostólica dos fiéis da prelatura, em todos os ambientes profissionais.
O novo prelado, na sua primeira conferência de imprensa, logo após a sua eleição e nomeação pontifícia, enumerou os objectivos pastorais a que vai dar prioridade: os jovens, a família, a luta contra a pobreza e os doentes, em total sintonia com o pontificado do Papa Francisco. Inicia-se assim uma nova etapa na história da prelatura do Opus Dei, na fidelidade ao carisma fundacional e ao espírito do Vaticano II, ao serviço da Igreja, da paz e da justiça social.