As eleições europeias de domingo deixaram a descoberto uma nova realidade política: nunca desde 1975 os três partidos que têm partilhado o poder tiveram tão poucos votos.
As contas feitas aos resultados que PSD, PS e CDS tiveram, juntos, em cada eleição realizada desde o 25 de abril, mostram que esta foi a primeira vez que estes partidos ficaram abaixo dos 60%. Seja em europeias, seja em eleições legislativas.
A média registada pelo ‘arco da governabilidade’ nestes 40 anos de democracia é muito forte: 79%. Mas a queda dos últimos três anos é igualmente enorme: menos 22,7 pontos percentuais face às legislativas que elegeram Passos Coelho primeiro-ministro. Se compararmos os resultados de domingo com as últimas europeias (realizadas em 2009), a queda não perde expressão: nesse anos os três partidos reuniram um total de 71,5% dos votos dos portugueses.
Este domingo, no entanto, o número desceu para o valor mais baixo da história: 59,1%. Até ontem o pior resultado tinha sido o das legislativas de 1985, – ano final da anterior intervenção do FMI em Portugal, curiosamente. Nessa eleição, a grande surpresa foi o Partido Renovador Democrático, criado nesse ano sob o patrocínio pouco discreto do então Presidente da República Ramalho Eanes.
O politólogo Carlos Jalali, da Universidade de Aveiro, admite que estes resultados podem abrir um problema sério ao regime político daqui a um ano: “Põe em causa os cenários de governabilidade para as legislativas. É que, regra geral, os partidos no Governo costumam sempre perder votos nas europeias (em média costumam perder 14 pontos, este ano perderam 23), e depois, nas legislativas, costumam recuperar 6 pontos percentuais. O grave é que, mesmo que PSD e CDS recuperem esses 6%, isso não chega para formar Governo”.
À esquerda, sobra pouco mais, anota Carlos Jalali: o PS não tem com quem se coligar, a não ser…
“Se fossem legislativas, o único Governo de maioria que podiamos ter era o Bloco Central
A erosão do eixo da governabilidade é mais percetível se revirmos os gráficos da noite eleitoral, contando a abstenção como se fosse uma opção política.
O PS, que foi o partido mais votado com 31,4% dos votos, teve precisamente 1.032.252 milhões de votos, o que representa apenas 10,58% das escolhas dos cidadãos eleitores recenseados em Portugal. O mesmo para a coligação do Governo, que, contrariando os 27,7% dos votos conseguidos nestas eleições, é nesta lógica apoiada por apenas 9,38% dos portugueses.