Sete pessoas morreram no ano passado na União Europeia na sequência de ataques terroristas, menos dez do que no ano anterior. Esta é uma das conclusões que constam no relatório anual sobre terrorismo, divulgado esta quarta-feira pela Europol. “O terrorismo continua a ameaçar a segurança dos cidadãos e os interesses da União Europeia”, lê-se, com a guerra civil da Síria a fazer “crescer exponencialmente essa ameaça”.
Do total de 152 ataques reportados em 2013, quatro deles resultaram em sete vítimas mortais. Uma delas foi o soldado britânico Lee Rigby, de 25 anos, assassinado a 22 de maio nas proximidades de um quartel do Exército em Woolwich, sudeste de Londres, por dois cidadãos ingleses convertidos ao islamismo, que o atropelaram e esfaquearam repetidas vezes, alegadamente para vingar a morte de muçulmanos pelas forças armadas britânicas.
Outro caso tem a ver com uma série de ataques terroristas levados a cabo também no Reino Unido entre abril e julho, motivados pela ideologia da extrema-direita. Num dos casos, um cidadão ucraniano esfaqueou um reformado muçulmano, Mohammed Saleem, quando saía de uma mesquita e caminhava para casa. O atacante, identificado como Pavlo Lapshyn, detonou ainda bombas caseiras em três mesquitas na área de West Midlands. O ucraniano viria depois a dizer à polícia que os ataques foram motivados pelo ódio às pessoas não-brancas.
A 9 janeiro de 2013, três mulheres curdas foram assassinadas em Paris, por pertencerem ao Partido dos Trabalhadores Curdos e estarem ativamente envolvidas no financiamento da organização. E, a 1 de novembro, dois membros do partido neo-nazi grego Aurora Dourada foram mortos a tiro num ataque que foi reclamado pelo antigo grupo Forças Revolucionárias Militantes Populares – foram as primeiras vítimas mortais resultantes da atividade terrorista anarquista na Grécia desde 2010.
O que é considerado terrorismo pela Europol?
“Os estados-membros da UE definem por terrorismo os atos criminosos que pretendem intimidar populações, compelir os Estados a aceitar exigências, ou desestabilizar as estruturas políticas, constitucionais, económicas ou sociais de um determinado país ou organização internacional.”
O Relatório de Tendências e da Situação do Terrorismo na União Europeia (TE-SAT 2014) faz uma compilação anual de dados baseada nas estatísticas facultadas pelas autoridades dos vários estados-membros da União Europeia.
Em 2013, houve um total de 152 ataques terroristas levados a cabo em cinco países. França foi o que registou mais ocorrências, 63, seguindo-se Espanha, com 33 ataques e o Reino Unido, com 35. Na Grécia, o número também foi considerável, ainda que mais baixo – 14 – e Itália fecha o leque, com um total de sete ataques organizados.
Trata-se, ainda assim, de uma diminuição face aos anos anteriores, realça o relatório. Em 2011, registaram-se 174 ataques, no ano seguinte o número aumentou para 219, e em 2013 baixou para os 152.
“Seja extremismo da direita ou da esquerda, separatismo ou atos de motivação religiosa, temos de intensificar o nosso trabalho para responder à ameaça do radicalismo”, afirma a Comissária Europeia para os assuntos internos, Cecília Malmstrmöm. E explica a preocupação: “Numa altura em que movimentos populistas e xenófobos circulam na Europa, é mais importante do que nunca não esquecer que o radicalismo que leva ao terrorismo violento é um processo gradual que não acontece de um dia para o outro”.
O relatório conclui ainda que a maioria dos ataques foram motivados por separatistas, e que o número de ataques relacionados com a extrema-esquerda e o anarquismo aumentou neste ano. Por outro lado, nota-se que não houve relatos de ataques diretamente relacionados com motivações religiosas ou motivados pela ideologia da extrema-direita. Ainda assim, o papel do fundamentalismo religioso aparece indiretamente relacionado com alguns dos ataques, nomeadamente com o do soldado britânico morto em Woolwich.
Em relação à responsabilização dos atos, o relatório dá conta de 535 detenções por ofensas terroristas, a maior parte em França (225), em Espanha (90) e no Reino Unido (77). Um número que aumentou face ao ano anterior e que se deve principalmente a uma maior diversidade das acusações. Em 2013, houve mais detenções por preparação e execução de ataques, por financiamento a grupos terroristas e pelo envio de tropas para zonas de conflito, nomeadamente para a Síria. Nos anos anteriores, pelo contrário, o motivo das detenções estava predominantemente relacionado com o facto de ser ou não ser membro de uma organização terrorista.