Sabia que os coalas bebés comem as fezes da mãe? É a única forma de povoar o intestino com as bactérias essenciais à digestão dos eucaliptos, de que se alimentam durante toda a vida adulta. Sabia que, por vezes, se usam excrementos para curar certas doenças nos animais? E que na China, há mais de 1.500 anos, se aconselha a ingestão de dejetos para curar algumas maleitas humanas? Para alguns doentes os transplantes de fezes pode ser, ainda hoje, a única maneira de lhes salvar a vida.
O interior de um intestino saudável tem uma vasta flora intestinal, uma verdadeira “floresta” de batérias de várias espécies. Nesta batalha microscópica a existência de várias populações de bactérias diferentes ajuda a controlar as restantes. Quando uma dessas populações de bactérias fica mais numerosa do que devia, ou porque as outras bactérias desapareceram ou porque já não conseguem controlá-la, o equilíbrio é quebrado e o resultado é, no mínimo, uma diarreia.
Os doentes, que sofrem com a multiplicação da bactéria Clostridium difficile no sistema digestivo, têm, além da diarreia, febres altas e fortes dores de barriga. Esta infeção pode mesmo pôr a vida do doente em risco – as bactérias produzem um gás tóxico que faz inchar o intestino. Para alguns, as dores são tão insuportáveis que estão até dispostos a ingerir fezes congeladas pelo nariz, segundo a BBC. Mas, quando os excrementos estão frescos, os transplantes podem ser feitos por colonoscopia.
Os transplantes de fezes, depois de confirmado que não transportam nenhuma doença extra, parecem ser a melhor solução para restabelecer a flora bacteriana que combate as bactérias estranhas porque são constituídas em 50% por estes microorganismos. Outra opção são os antibióticos, mas estes mostraram-se menos eficazes do que os excrementos, especialmente para curar as recaídas da doença, segundo um estudo da The New England Journal of Medicine. Além disso, os antibióticos são, em parte, a causa da doença.
Os antibióticos também matam as bactérias boas
Os antibióticos usados para combater as bactérias que nos causam uma vasta gama de doenças, como tuberculose, tétano ou infeção urinária, acabam por matar também as bactérias boas que ajudam a proteger o nosso organismo e a manter funções vitais, como a digestão – 90% do corpo humano é composto de bactérias e apenas 10% de células humanas.O uso indiscriminado de antibióticos e a utilização de antibióticos de largo espectro (daqueles que matam “tudo”) levam a situações de desequilíbrio no organismo e ao aparecimento de bactérias super resistentes, conforme alerta o relatório da Organização Mundial de Saúde.
Apesar de existir já um movimento alargado de uso das fezes para tratamento de certas doenças, como o The Power of Poop, o transplante continua a não ser completamente aceite pela comunidade médica e por alguns doentes. A própria FDA (sigla ingles para Food and Drug Administration), entidade norte-americana responsável pela saúde pública, segurança alimentar e farmacológica, tem tido dificuldade em regulamentar este tratamento, segundo a BBC.
Isso tem levado pessoas como Catherine Duff, entrevistada pela BBC, a preparar o tratamento em casa. Em 2012, depois de comprovar que as fezes do marido não tinham nenhuma doença, fez um batido e introduziu-o com um clister no intestino. Tinha estado a agonizar com dores e à beira de uma falência renal nos dias anteriores, mas aquele tratamento tinha conseguido pô-la melhor em apenas quatro horas. Sempre era melhor do que ficar sem parte do intestino grosso.
No início de 2013 Catherine Duff criou a Fundação para o Transplante Fecal para ajudar doentes que, tal como ela, tem dificuldade em encontrar ajuda juntos dos profissionais de saúde.