António José Seguro vai deixar António Costa sem resposta até à reunião da comissão nacional do partido, marcada para sábado.
“Lamento o que se está a passar esta semana (…) Várias atitudes que foram tomadas transformaram uma vitória do PS numa derrota, prejudicando o próprio PS”, afirmou Seguro esta quinta-feira em Coimbra, acrescentando: “O que tenho a dizer direi em primeira mão” aos dirigentes do partido na reunião da comissão nacional.
O atual líder tem feito saber que tenciona resistir ao desafio de Costa para que convoque um congresso extraordinário – e que cabe a Costa reunir os apoios necessários para pedir a convocação desse congresso. Na quarta-feira, o líder e o desafiador estiveram reunidos na sede do PS, no Rato, em Lisboa, e no final da reunião a direção emitiu um comunicado só para dizer que “registou” a posição de Costa.
Tal como o Observador noticiou esta manhã, o secretário-geral do PS foi a Coimbra (sem pré-aviso público) para assistir ao doutoramento honoris causa de António Arnaut (fundador do partido) e ia determinado a não pronunciar-se sobre a polémica em torno da liderança. Sexta-feira, não tem agenda pública. “O que há agora é a comissão nacional, é lá que o secretário-geral deve falar”, explica ao Observador a mesma fonte.
À saída do encontro com Seguro na quarta-feira, Costa admitiu entregar na comissão nacional, marcada para o Vimeiro, uma proposta de realização de congresso extraordinário. Contudo, entre os costistas, admite-se que o apoio neste órgão do partido não vá além dos 30%. “As inerências tornam as coisas mais complicadas”, admitiu ao Observador um apoiante do presidente da Câmara de Lisboa.
Na contagem de apoios internos, os seguristas admitem que Costa tenha, nesta altura, apenas o apoio das federações de Lisboa, Aveiro e Açores e uma parte de Castelo Branco. “Guarda e Évora, nem pensar!”, afirmou ao Observador um apoiante de Seguro. É a reação à notícia de ontem do Expresso de que Costa teria oito federações ao seu lado contra 11 do atual líder.
Ao fim da manhã de quinta-feira, uma fonte da direção fez uma contabilização mais detalhada em declarações à Lusa, garantindo que Seguro recebeu o apoio de “15 dos 20 presidentes de federações” do partido, que consideram não ser este “o momento de discutir a liderança”. Essas federações apoiantes de Seguro, de acordo com a mesma fonte, são Viana do Castelo, Braga, Porto, Bragança, Guarda, Coimbra, Leiria, Santarém, Portalegre, Zona Oeste, Setúbal, Évora, Beja, Algarve e Madeira.
Direção com fé no Mundial
Com estes apoios, a direção espera conter qualquer pedido de Costa para a realização de eleições no partido. “Daqui a duas semanas começa o mundial de futebol, já ninguém vai ligar nenhuma a isto”, dizia uma fonte da direção, sob anonimato. A irritação no Rato com o desafio de Costa é grande: “É como alguém chegar ao gabinete do primeiro-ministro, bater à porta, e dizer: o sr. tem que sair, porque teve um resultado fraquinho. E depois do primeiro-ministro dizer que tem um mandato para cumprir, essa pessoa responder que ele está preso a formalidades”, acrescenta essa fonte.
Naturalmente, a tese do lado de Costa é outra: “Se esse bloqueio acontecer [oposição do líder ao congresso], Seguro será cilindrado pelo partido. Como é que ele vai aguentar mais 15 meses?”, interroga-se um apoiante do autarca de Lisboa.
A convocação de um congresso extraordinário pode acontecer se for proposta por Seguro ou se Costa recolher o apoio de metade da comissão nacional ou o apoio de metade das federações (que representem a maioria dos membros inscritos).