Há mais de três meses que se registam protestos diários na Venezuela devido à crise económica, inflação, escassez de produtos, insegurança, corrupção, alegada ingerência cubana e repressão por parte de organismos de segurança do Estado. Esta sexta-feira os protestos de grupos de cidadãos levaram à detenção de manifestantes e polícias.

Alguns protestos degeneraram em confrontos violentos, durante os quais morreram pelo menos 42 pessoas, incluindo dez polícias ou militares. Por outro lado, mais de 870 pessoas ficaram feridas e 3.210 foram detidas, das quais 224 continuam presas. Mais de dez polícias foram detidos e estão em curso 180 investigações por alegadas violações de direitos fundamentais dos manifestantes.

Os protestos aconteceram por todo o país, com barricadas nas ruas da cidade de Maturín, a leste da capital ou protestos em Barquisimeto, estado de Lara, 370 quilómetros a sudoeste de Caracas. Até mesmo com estudantes da Universidade Nacional Experimental, no estado venezuelano de Táchira, a sudoeste de Caracas, e da Universidade de Carabobo, em Valência, a oeste de Caracas.

Estudantes libertos

Também esta sexta-feira, um tribunal venezuelano ordenou a libertação de dez estudantes presos há 35 dias, entre eles uma luso-descendente de 23 anos acusada de terrorismo por se manifestar contra uma resolução do Ministério de Educação venezuelano. Segundo Alfredo Romero, diretor da organização não governamental Foro Penal Venezuelano, três dos jovens saíram em “liberdade plena” enquanto aos outros sete, entre eles a jovem lusa-descendente Aíram Araújo Maldonado, foi imposto um regime de apresentações mensais em tribunal.

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Aíram Araújo Maldonado, estudante do terceiro ano de Engenharia Civil, na Universidade Santa Maria, residente em Santa Fé, a sul de Caracas, participou em protestos contra uma resolução do Ministério da Educação que criou os “Conselhos Educativos” que estão a ser contestados como instrumentos de promoção ideológica do governo nas salas de aula e de supressão do pluralismo.

Segundo a mãe, a jovem foi presa a 26 de abril “quando regressava a casa no final de uma manifestação em Caracas (…), foi perseguida, detida e agredida com uma arma na cabeça”. Fontes judiciais adiantaram à agência Lusa que depois de detida a jovem foi levada para o Forte de Tiúna (principal base militar de Caracas) e três dias mais tarde foi presente a um juiz que ordenou a sua detenção no Instituto Nacional de Orientação Feminina (INOF) de Los Teques, 20 quilómetros a sul da cidade capital do país.

A detenção da jovem luso-descendente ocorreu um dia depois de o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela sentenciar que qualquer concentração ou manifestação pacífica tem que estar previamente autorizada e que o direito de protestar, apesar de consagrado na Constituição, não é absoluto e admite restrições.