As pessoas que, com o passar dos anos, se tornam mais cínicas e descrentes têm maior risco de sofrer de demência, revela um estudo publicado esta semana no jornal da Academia Americana de Neurologia. Mas não necessariamente de morrer mais cedo.
O estudo, desenvolvido pela Universidade da Finlândia Oriental, incidiu sobre 1449 pessoas, com uma média de idade de 71 anos. As pessoas, homens e mulheres, foram sujeitas a dois testes certificados: um para a demência, outro para medir o grau de cinismo. Neste último era pedido que concordassem ou discordassem de afirmações como “a maior parte das pessoas vai usar em algum momento motivos injustos para ganhar vantagem”, ou “penso que a maior parte das pessoas vai mentir para ir mais longe”, ou ainda “penso que é mais seguro não confiar em ninguém”. Quanto mais elevado fosse o grau de concordância com estas afirmações, maior o grau de cinismo.
E, concluiu o estudo, as pessoas que se revelaram mais desconfiadas estão 2,54 vezes mais susceptíveis de virem a sofrer de demência em relação às menos desconfiadas. A investigação teve por base o controlo de outros factores que possam influenciar o risco de demência, incluindo a pressão arterial, os níveis de colesterol e hábitos de consumo como o tabaco.
Cinismo é uma profunda desconfiança dos outros. É considerado pela psicologia como uma espécie de raiva crónica que se desenvolve ao longo do tempo. Neste caso, o tipo de cinismo que o estudo trata tem diretamente a ver com o facto de certas pessoas duvidarem de tudo o que lhe dizem e acreditarem que os outros agem sempre em função de interesses próprios.
Ainda assim, ao contrário do que estudos anteriores tinham sugerido, não foi encontrada nenhum a relação entre o grau de cinismo e a morte prematura.
“Já havia estudos que mostravam que as pessoas mais desconfiadas tinham maior risco de morrer mais cedo e de ter mais problemas de saúde, mas nunca antes se tinha concluído qualquer relação com a demência”, disse em entrevista à CNN, Anna-Maija Tolppanen, uma das autoras do estudo. “Se as pessoas mais optimistas têm menor risco de sofrer de doenças do foro neurológico, achámos bem tentar perceber se o contrário também era verdade”, explica.
A boa notícia é que a elevada desconfiança não é um estado neurológico permanente. “Estou certa de que as pessoas podem mudar – podem mudar o estilo de vida, perder peso, cortar laços com amizades pouco saudáveis”, diz à CNN Hilary Tindle, professor assistente da Universidade de Pittsburgh. E tudo isso ajuda a ter pensamentos mais positivos. “Se confiarmos mais, temos a capacidade de agir de forma mais saudável”, resume, acrescentando que, enquanto médica, vê “pessoas de todas as idades a fazer mudanças positivas todos os dias”.