Noite de sábado num fim de semana de Santo António em Lisboa. O trânsito caótico, arraiais de bairro e música pimba, calor de verão, ecrã gigante no Terreiro do Paço a projetar o mundial de futebol, turistas por todo o lado, cheiro intenso a sardinha assada, e nós a caminho do Cais do Sodré, para (ver e) ouvir a eletrónica do britânico Jon Hopkins. Lisboa é uma cidade muito diversa, dúvidas houvesse.

A Musicbox Heineken Series anunciava “Jon Hopkins com Live Visuals”, e assim a promessa de somar à música um espetáculo de luz e imagem. Mas para tal era preciso isso mesmo: luz. À hora marcada, a sala ainda estava completamente vazia, o triste costume, mas eis que minutos depois, a energia foi abaixo e todo o Cais do Sodré ficou às escuras. Uma hora e meia depois bateram-se palmas com o regresso da luz, a fila realinhou-se para encher o MusicBox, e lá entramos para uma apresentação “a correr” de Jibóia, para que o atraso não se fizesse sentir em demasia. E foi o suficiente para o aquecimento.

Trocam-se as mesas e os equipamentos e é o próprio Jon Hopkins que sobe ao palco para umas afinações de última hora, cortesia do atraso ou da EDP. E lá arranca, ele e o Vj (video jockey, chamemos-lhe assim), num set sincronizado, som e imagem, uma o complemento da outra, foi uma sensação confusa, tentar perceber qual puxa por quem. Mas com o decorrer da apresentação, essa conjugação revelou-se indispensável, a música de Jon Hopkins é fascinante, mas o que aconteceu ali foi outra coisa, foi arte sonora e visual numa fusão estudada (aparentemente) ao milímetro.

A eletrónica densa mas melódica de Jon Hopkins fez-se sentir logo no início, com “Breathe This Air” e “Open Eye Signal”, e com o desfilar de temas do último “Immunity”, o álbum central da apresentação. Mas ainda houve tempo para passar pelo anterior “Insides”, quase no fim com o tema “Vessels” e a meio, com o elaborado “Light Through The Veins”. E este adjetivo não foi escolhido por acaso: Jon Hopkins não é só um músico agarrado ao computador, ele improvisa ritmos e frequências complexas sobre cada linha melódica (sempre reconhecível), modificando cada tema mas sem o desvirtuar. É um compositor e produtor que “carrega nos botões” em tempo real, não se limita a debitar batidas pré-formatadas.

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O público que esgotou a sala sabia ao que ia, e até em momentos de pausa continuava a dançar, foi insaciável e não desarmou um segundo. Hopkins, sorridente e simpático, ia agradecendo o entusiasmo com palmas para a casa cheia e virada para ele. Foi pena ter decorrido apenas uma hora, todos aguentavam mais, Jon Hopkins é por vezes pesado mas não cansa, e o espetáculo visual foi um complemento indispensável e encantador (os telemóveis sempre no ar, a gravar e fotografar). Estivesse desligada a luz estroboscópica que nos ofuscava desnecessariamente, interferindo com as imagens projetadas, e a experiência teria sido exemplar.