But (francês), gol (castelhano), tor (alemão), goal (inglês), ou doel (em holandês). É a maravilha das línguas, cada uma tem a sua versão. Em bom português, diz-se golo. Ou grita-se. É talvez a única palavra que, traduzida ou não, apanha boleia nos berros e sai da garganta de dezenas de milhares de pessoas em uníssono, sem que antes haja qualquer ensaio. Só precisa de um gatilho — que a bola entre na baliza. O resto sai naturalmente. Como saiu por 49 vezes durante a primeira jornada deste Mundial.
França, em 1998
37 golos
Encontro com mais golos: o 2-3 do Espanha à Nigéria, a 13 de Junho
Nulos: 2 — Holanda vs Bélgica e o Paraguai vs Bugária
Quarenta e nove. É este o número de golos que se conta ao fim de 16 jogos. Um recorde. E que bom recorde. Nunca um Campeonato do Mundo com 32 equipas — o primeiro foi em 1998, em França — fechava a ronda inaugural de duelos com tantos golos marcados. Até agora, a versão mais goleadora fora o Mundial do Japão e da Coreia do Sul, quando os ares asiáticos deram inspiração a 46 golos. Este reinado acabou ontem.
Japão e Coreira do Sul, em 2002
46 golos
Encontro com mais golos: o 8-0 da Alemanha à Arábia Saudita, a 1 de Junho
Nulos: 0
Começa agora o império da Copa do Mundo brasileira. O 1-1 entre Rússia e Coreia do Sul deu os últimos golos ao monte, mas foi o 2-1 entre Bélgica e Argélia que fez este Mundial ultrapassar a edição de 2002. Se o compararmos a 2010, então, aí é uma goleada das antigas — são quase o dobro dos 25 que se marcaram nos primeiros 16 encontros do Mundial da África do Sul.
Este ano, o Mundial decidiu dançar o samba, mergulhar na cachaça e espalhar-se por 12 cidades-sede. Nos golos, já ganhou a todos. Mas há duas coisas em que acabou por perder contra o campeonato de há 12 anos, na Ásia. A primeira é nos nulos. Nenhum dos 16 encontros inaugurais no Japão e na Coreia do Sul terminou sem golos, pecúlio que o Mundial 2014 não conseguiu alcançar, em parte, devido a Carlos Queiroz.
Alemanha, em 2006
39 golos
Encontro com mais golos: o 4-2 da Alemanha à Costa Rica, a 9 de Junho
Nulos: 2 — o França vs Suíça e o Trinidad e Tobago vs Suécia
Pela segunda vez seguida (após o 0-0, em 2010, no Portugal-Costa do Marfim), o treinador português voltou a arrancar um Mundial com um nulo. Prudência a mais? Talvez. Agora foi com o Irão, embora divida as culpas com a Nigéria. Desta vez, vá lá, a influência de Queiroz não chegou para a timidez do Mundial da África do Sul se contagiar ao Brasil — há quatro anos, os primeiros 16 jogos deram apenas 25 golos à competição. Muito pouco.
Depois, há a segunda coisa. A que obriga a falar dos alemães.
África do Sul, em 2010
25 golos
Encontro com mais golos: o 4-0 da Alemanha à Austrália, a 13 de Junho
Nulos: 2 — o Costa do Marfim vs Portugal e o Uruguai vs França
São eles que detêm a maior goleada na era dos Mundiais com 32 equipas. E lá está, foi em 2002, quando a Árabia Saudita sofreu tanto como uma pastilha que fica colada à roda de um carro — foi atropelada por 8-0. Desde aí, aliás, a Alemanha, nunca mais arrancou um Mundial sem marcar pelo menos quatro golos: 4-2 à Costa Rica, em 2006, e 4-0 à Austrália, em 2010. E, na segunda-feira, a primeira parte contra Portugal quase pareceu uma autoestrada alemã, sem impor limites de velocidade. Por isso, a seleção nacional contribuiu para que esta regra ainda perdure, pelo menos, até 2018.
Brasil, em 2014
49 golos
Encontro com mais golos: o 5-1 da Holanda à Espanha, a 13 de Junho
Nulos: 1 — o Nigéria vs Irão
Marcar primeiro? Não foi boa ideia
Costuma ser uma ânsia. Entrar em campo, ter a bola e procurar ser a primeira equipa a metê-la na baliza inimiga. O Brasil, ao que parece, pegou na bata de professor e ensinou que nem sempre isso é o mais sensato. Entre os 16 encontros da primeira jornada, apenas dez tiveram o privilégio de ver ambas as equipas marcarem golos.
Nessa dezena de jogos, houve seis em que a vitória não terminou no colo da equipa que inaugurou o marcador — aconteceu no Brasil vs Croácia (3-1), no Espanha vs Holanda (1-5), no Uruguai vs Costa Rica (1-3), no Costa do Marfim vs Japão (2-1), no Suíça vs Equador (2-1) e, por último, no Bélgica vs Argélia (2-1). Em todos houve a tal remontada, palavra castelhana para reviravolta. Eles bem o sabem, depois de a Holanda não fazer cerimónia e responder ao golo espanhol com cinco dos seus.
Empate é coisa ruim
À última hora, como bom português, revêem-se as contas e descobre-se outro traço de personalidade deste Mundial brasileiro — empates, não é com ele. Na primeira jornada houve apenas dois jogos que içaram a bandeira branca e ficaram-se pelas tréguas: o Irão vs Nigéria (0-0) e o Rússia vs Coreia do Sul (1-1).
Os restantes Campeonatos do Mundo que abriram a porta a 32 convidados foram bem mais neutros. No França’98 registaram-se cinco empates, o Japão/Coreia do Sul’2002 foi palco de quatro igualdades e o Alemanha’2006 recebeu outros três. Falta o África do Sul’2010, o primeiro Mundial em solo africano que, em 16 partidas, viu seis empates a acontecerem. O Brasil, pelos vistos, não é sítio para se fazerem tréguas.