Todas as aves põem ovos, mas a semelhança entre estes elementos essenciais à reprodução termina aqui. Uns têm pouco mais que um centímetro e 0,350 gramas, como o do beija-flor da Jamaica (Mellisuga minima), uma das aves mais pequenas do mundo, outros chegam aos 2,5 quilos como o ovo de avestruz (Struthio camelus) registado nos Records do Guinness. Tamanhos tão dispares não têm como enganar.

Se o tamanho não for suficiente, existem as cores. As do casuar são verdes, as dos estorninhos-europeus são azuis e as das gaivotas são acastanhadas com manchas mais escuras. As manchas são uma boa camuflagem para os ovos que ficam em ninhos no chão, mas os progenitores também têm de se manter atentos.

Mesmo assim, à mais pequena distração da progenitora, a intrusa avança, deixa um ovo e voa à procura de outra vítima. É a fêmea do cuco que em vez de chocar os próprios ovos, os deixa nos ninhos de outras espécies à espera que outra mãe o faça. Para que a mãe adotiva não dê pela diferença, a mãe cuco tira um dos ovos do ninho. Quando a cria de cuco nasce acaba com a concorrência expulsando do ninho os ovos que restam.

A mãe cuco consegue produzir ovos com cores e padrões semelhantes aos dos pais adotivos, não se estranhando porque é que estes não dão logo pela diferença. Mais estranho é que aceitem alimentar uma cria ou juvenil que, por vezes, é muito maior que eles. Contudo, investigadores da Universidade de Harvard e de Cambridge, no Reino Unido, descobriram que existem espécies que evoluíram o padrão dos ovos para poderem distingui-los do cuco parasita – umas têm um padrão altamente repetitivo, outras têm padrões que diferem de fêmea para fêmea na mesma população, outras ainda produzem padrões muito complexos. Assim que os progenitores identificam o ovo invasor tratam de o eliminar.

Cuco_ovos de hospedeiros_Mary Caswell StoddardNatural History Museum

Vários padrões de rouxinol-grande-dos-caniços (Acrocephalus arundinaceus), uma das espécies parasitadas – Mary Caswell Stoddard/Natural History Museum

“A capacidade do cuco comum mimetizar a aparência dos ovos dos hospedeiros já era conhecida há séculos. A descoberta surpreendente é que os hospedeiros podem defender-se contra o mimetismo do cuco e desenvolver padrões altamente reconhecíveis nos seus próprios ovos, tal como um banco pode inserir marcas d’água nas notas para apanhar falsificadores”, diz em comunicado Mary Caswell Stoddard, responsável pela investigação que permitiu identificar os padrões usando um programa de computador Naturepatternmatch.

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