“As elites adoram-no, mas os espanhóis não o querem”, escreveu esta quinta-feira Lucía Méndez, jornalista do El Mundo, sobre a saída de Alfredo Rubalcaba do Congresso espanhol, que aconteceu na quarta-feira. O ainda secretário-geral do PSOE disse adeus ao seu lugar de deputado numa despedida emocionada que reuniu aplausos de todas as bancadas.

Rubalcaba deixa o lugar definitivamente em setembro e quer regressar à Universidade Complutense, onde é professor titular de Química Orgânica, cargo que abandonou há 32 anos quando aceitou ser chefe de gabinete do ministro de educação José Maria Maravall, no Governo socialista de Felipe González.

No momento de se despedir do lugar que ocupa no Congresso há 21 anos, Rubalcaba disse que “a maior honra que um político pode ter é ser deputado” e pediu, de forma irónica: “Desejo que me deixem tanto como eu vos vou deixar a vocês”.

Quase a fazer 63 anos e há quatro décadas no PSOE, Alfredo Rubalcaba foi ministro da Educação, da Presidência, do Interior e vice primeiro-ministro, numa carreira política com mais de 30 anos. Deixou, também, uma nota de despedida no Facebook, onde escreveu nunca ter pensado que o seu envolvimento político durasse tanto tempo:

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rubalcaba

Em 1992, Rubalcaba foi nomeado ministro da Educação, etapa que o socialista define como uma das melhores da sua carreira, segundo o El País. À frente desta pasta, o doutorado em Química continuou o trabalho que começara nos gabinetes dos ministros anteriores, Maravall e Javier Solana. Participou na elaboração das leis da Ciência e Reforma Universitária e teve um papel importante na negociação com os estudantes durante as revoltas de 1986-1987, bem como na elaboração da Lei Orgânica da Ordenação Geral do Sistema Educativo (Logse), a primeira grande reforma educativa feita pela esquerda, que substituiu a Lei Geral da Educação de 1970. “Redigi sozinho a lei da ciência e sinto-me muito muito orgulhoso dela”, disse Rubalcaba, como lembra o El País.

Depois dos atentados terroristas de 11 de março, levados a cabo por uma célula jihadista com ligações à al-Qaeda, quando o Governo de José María Aznar atribuía a culpa do massacre à ETA, Rubalcaba foi duro com o PP: “Os cidadãos merecem um Governo que não lhes minta, um Governo que lhes diga a verdade”.

Como ministro do Interior no primeiro Governo de Zapatero, cabia a Rubalcaba gerir o dossier relativo à ETA, com o objetivo de pôr fim à violência, escreve o El País. Segundo Lúcia Méndez, o ainda secretário geral do PSOE “conduziu o processo do fim da ETA com firmeza e inteligência”, ao mesmo tempo que era acusado, pelo PP, de ser conivente com o grupo terrorista e de ter aproveitado o “11-M” para facilitar o regresso do PSOE ao poder.

No final de maio, o mau resultado dos socialistas nas eleições europeias obrigou-o a demitir-se, mas Alfredo Rubalcaba quis manter-se à frente do PSOE até à tomada de posse de Felipe VI.

O socialista que “foi tudo”, – “amigo e inimigo, bom e mau, felipista e zapaterista, monárquico e republicano, de esquerda e do centro, número dois e número um” – nas palavras de Lúcia Méndez e que, segundo a mesma jornalista, vivia a política ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche, ao jantar, decidiu abandonar o cargo de deputado e de secretário geral do PSOE no início de 2014.

Rubalcaba comunicou ao rei Juan Carlos I a sua intenção, mas este confidenciou-lhe que se preparava para abdicar a favor do filho. O secretário geral do PSOE decidiu nessa altura que a sua obrigação era a de continuar à frente do partido até à mudança do rei. No final de maio, o mau resultado dos socialistas nas eleições europeias obrigou-o a demitir-se, mas Alfredo Rubalcaba quis manter-se à frente dos socialistas até à tomada de posse de Felipe VI.

Depois da pesada derrota nas eleições de 2011, – em que o PSOE perdeu 4,3 milhões de votantes em comparação com 2008 e Mariano Rajoy do PP conseguiu uma maioria absoluta – “o PSOE não conseguiu recuperar a confiança dos cidadãos” disse Rubalcaba a 26 de maio, quando anunciou que deixava o PSOE e convocou um congresso extraordinário em julho para eleger uma nova direção.

Ainda antes de sair, o socialista conseguiu que o PSOE apoiasse a lei de sucessão ao trono e que não se opusesse à concessão de imunidade a Juan Carlos. Ainda assim, o partido dividiu-se quanto à questão do referendo sobre a forma de Governo – monarquia ou república – com alguns dirigentes a pedirem uma consulta popular.

Depois do congresso extraordinário do PSOE, serão realizadas eleições primárias para escolher o candidato socialista a primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2015. “O mesmo estadista que salvou a monarquia deixou o PSOE reduzido a cinzas”, escreveu Lúcia Méndez.