A China enfrenta atualmente um grave problema a nível laboral: mais de 600 mil chineses morrem por ano por trabalharem demais, segundo dados da Xinhua, a agência de notícias oficial do Estado. Este aumento da taxa de mortalidade encontra-se, em grande parte, relacionado com as condições laborais em que muitos dos trabalhadores se encontram: por não receberem salários muito elevados, decidem fazer horas extraordinárias, algo que vai contra a lei do trabalho na China. De acordo com esta lei, os trabalhadores não podem ultrapassar as oito horas diárias de trabalho e as 44 horas semanais (artigo 36.º).
Foi no Japão que a questão da morte por excesso de trabalho, ou karoshi, começou a ganhar mais visibilidade. As exigências do local de trabalho podem provocar derrames cerebrais, ataques cardíacos ou outras causas de morte súbita. A 20 de junho, o parlamento japonês aprovou uma lei que prevê a criação de programas de prevenção para as empresas e o investimento em pesquisa científica sobre o tema. De acordo com a Bloomberg, em 2012 o governo indemnizou 813 famílias.
“Na China, a sociedade ainda crê que as coisas têm que ser feitas para o desenvolvimento e para o bem da naçã0”, afirma Yang Heqing, diretor da Faculdade de Economia do Trabalho, em Pequim.
Na China, este tipo de morte, ou guolaosi, deve-se também à questão dos valores sócio-culturais ainda vigentes na sociedade chinesa. “Temos vindo a notar que a realização excessiva de horas extra se está a tornar numa tendência”, disse Tim De Meyer, o diretor do gabinete responsável pela China na Organização Mundial do Trabalho, citado pela Bloomberg. “É um perigo mental e físico”, explicou.
Yang Heqing, diretor da Faculdade de Economia do Trabalho em Pequim, explicou à Bloomberg que “na China, a sociedade ainda crê que as coisas têm que ser feitas para o desenvolvimento e para o bem da nação, para o desenvolvimento da economia, de modo a que te esqueças de ti próprio”. Mas o que não se pode esquecer, acrescenta, é que “o excesso de trabalho faz mal à família e também à nação”.
Yang Heqing explicou ainda que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional não é uma das prioridades de uma sociedade que combina um sistema financeiro capitalista e a crença milenar de que se devem colocar as necessidades coletivas acima das individuais, o primado do Estado sobre as pessoas.