Em 2013, o António (10 anos) e o Pedro (6) passaram as primeiras férias de verão só com a mãe. O divórcio de Maria João Caetano era recente e o desafio irremediável: três semanas passadas a três. “Estava um pouco em pânico e sabia que não ia ter um minuto de descanso. Quando somos três não há ninguém que vá ao supermercado enquanto outra pessoa fica com as crianças. Tudo tem de ser feito em conjunto”, explica a mãe ao Observador. Era precisa uma solução e Maria João não tardou muito a encontrá-la.

“Recorri aos amigos”, explica. Numa altura em que a maioria das pessoas está de férias, a jornalista optou por passar alguns dias com diferentes casais amigos, mas também com a irmã e respetivos sobrinhos. Foi da maneira que os filhos brincaram com outras crianças e ela descontraiu ao lado de pessoas da mesma faixa etária: “Quando fico sozinha com o António e com o Pedro, faz-me falta falar com adultos”. Por essa razão, foi intercalando a companhia e, quando chegou a vez de o trio ficar sozinho, tudo acabou por correr bem: a família já tinha entrado no ritmo de descanso e os dias que antecederam o regresso à rotina acabaram por ser tranquilos.

Parte da fórmula para o sucesso de férias em família consiste em abrandar — “Ao início queremos tanto fazer as coisas que demoramos algum tempo a acalmar. O facto de estarmos 24 horas todos juntos, o que é difícil, implica que seja preciso algum equilíbrio. Temos de saber escolher as batalhas”, explica Maria João, argumentando que as férias são uma espécie de exercício para os pais, que devem dar mais de liberdade aos filhos.

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Maria João Caetano e filhos – D.R.

Inês Afonso Marques concorda. Psicóloga infantil há nove anos, explica que as férias implicam a alteração das rotinas, o que exige preparação. “Este é um período em que pais e filhos passam mais tempo juntos, o que pode ser encarado como uma oportunidade para fortalecer relações”. No entanto, estreitar laços familiares deve ser feito com calma. A imposição de pais, que “obrigam” os filhos a estar em determinado lugar por determinado tempo, pode gerar conflitos. “Se tudo for planeado de uma forma mais democrática, em que todos estão envolvidos nas decisões, isso vai facilitar as coisas”. A capacidade de ceder pode ser, assim, uma das respostas.

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Se por um lado é certo que as férias aumentam o tempo e o espaço de comunicação, por outro, é importante não exagerar. O psicólogo José Morgado explica que há pais que se sentem desconfortáveis por, ao longo do ano, terem pouco tempo para os filhos, razão pela qual olham para o intervalo escolar como uma maneira de se redimirem. “Se um pai se sente culpado por ter pouco tempo para a criança, pode aproveitar as férias para interagir mais com o miúdo, mas não pode ser tudo na vida dele”.

É isso que faz o pai de Joana, de cinco anos. A mãe, Ana Guerreiro, explica que o marido chega muitas vezes tarde a casa. “Às vezes nem janta”, desabafa. Quando entra em férias, o pai, apesar de não gostar particularmente de se levantar cedo, fá-lo com outra disposição — quer passar mais tempo com a filha. São apenas 15 dias em que os três estão juntos 24 horas sobre 24 horas. Depois, cabe à mãe fazer companhia a Joana até às aulas começarem. Ana Guerreiro, que trabalha a part-time, confessa que, nos últimos dias do intervalo escolar, a falta de paciência e de tolerância é evidente entre ambas. “A Joana até começa a pedir para ir à escola. Às vezes, tenho de levá-la lá para que veja que está mesmo fechada”.

Segundo José Morgado, que é também docente do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), as crianças são autónomas e, tal como os adultos, precisam de espaço próprio (consoante a idade e o local escolhido para as férias): “Se os pais forem muito insistentes, os miúdos vão abominar passar férias com eles”. O facto de haver quem se preocupe em excesso sugere a procura de um equilíbrio familiar. “Nem pais a menos, nem pais a mais”, reitera José Morgado. Ou seja, nem privação nem intoxicação.

Saborear o momento é, então, fundamental. “É preciso estar em pleno, sem preocupações, sem telemóveis ou e-mails por perto. Antes aproveitar e estar atento aos sinais que a criança vai dando, mostrar disponibilidade e ouvi-las”, explica Inês Afonso Marques, profissional da Oficina de Psicologia.

Mas voltemos ao início: Maria João Caetano parece ser um caso de sucesso. Tendo em conta as férias passadas a três, este ano está a considerar fazer algo semelhante. Na agenda está marcada uma viagem à Disneyland Paris, uma promessa devida desde que o António completou o 4º ano do ensino básico. Mas como ambos os filhos têm idades diferentes, o que implica andar em diversões distintas, a jornalista está a pensar em ir com mais duas mães e respetivas crianças. “Espero que corra bem. É a única maneira de fazer com que as coisas aconteçam. O mais fácil seria mesmo ficar em casa a ver televisão”.