A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) vai abrir um procedimento de averiguações à morte de dois doentes por alegadamente não terem recebido a tempo um dispositivo para o coração, segundo a denúncia feita esta terça-feira pela Ordem dos Médicos.

Os doentes morreram enquanto esperavam por uma intervenção no Hospital Santa Cruz, alegadamente por falta de dispositivos médicos devida a “limitações administrativas”. Os doentes encontravam-se em lista de espera para tratar por via percutânea uma estenose aórtica de alto risco.

Questionado pela agência Lusa, fonte do gabinete do ministro da Saúde disse que, “como sempre acontece em casos de denúncias públicas resultantes de eventuais más práticas nas unidades de Saúde, a IGAS abrirá procedimento de averiguações”.

O presidente do conselho regional do Sul deste organismo, Jaime Teixeira Mendes, admitiu que a Ordem pode levar o caso aos tribunais, nomeadamente contra o conselho de administração da unidade hospitalar, que “tem conhecimento da situação”, e até o próprio ministro da Saúde, enquanto alegado responsável pelos constrangimentos financeiros que terão estado na base desta falta de material.

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Além destas duas mortes, os médicos do Hospital de Santa Cruz que efetuaram a denúncia à Ordem garantem que a Unidade de Intervenção Cardiovascular “ficou sem capacidade de resposta desde o dia 4 de julho por falta de manutenção e material”.

A conferência de imprensa organizada esta manhã pela ordem pretendia denunciar casos graves relacionados com os constrangimentos financeiros.

qualidade do serviço nacional de saúde preocupa pcp

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, reuniu-se hoje com o bastonário da Ordem dos Médicos, convergindo nas preocupações com a “qualidade do serviço nacional de saúde” e do “perigo” de passar a ser prestado “a duas velocidades”.

“Tivemos a confirmação da importância do Estado ter a sua responsabilidade, definida na Constituição da República Portuguesa, não só como financiador mas prestador de serviços e não, como o Governo pretende, o Estado financiador e meramente regulador de um setor que está a ganhar cada vez mais força, que é o setor privado”, afirmou Jerónimo de Sousa.

Jerónimo de Sousa chefiou uma delegação do PCP, que reuniu com o bastonário da Ordem dos Médicos, a pedido dos comunistas, na sede da Ordem, em Lisboa.

Para o líder comunista, existe “o perigo real de existência de um Serviço Nacional de Saúde a duas velocidades, de uma saúde não como direito, mas como quem quer saúde, paga”.

“Encontrámos nesta instituição uma grande identificação na defesa do Serviço Nacional de Saúde”, afirmou, destacando a greve da semana passada, que, disse, teve a solidariedade dos utentes.

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, disse aos jornalistas que aquela estrutura partilha “das preocupações quanto à qualidade do Serviço Nacional de Saúde, quanto à qualidade da saúde em Portugal”.

“A questão da saúde e o Serviço Nacional de Saúde é algo que, na ótica da Ordem dos Médicos, podia e devia ser alvo de um pacto transpartidário para defesa do Serviço Nacional do Saúde, que era o melhor do mundo na relação qualidade/custo per capita”, sustentou.

José Manuel Silva alertou ainda o PCP para a publicação da versão final do código de ética da saúde, que designa de “lei da rolha”, considerando que “procura impedir profissionais de transmitir às ordens profissionais todas as situações de dificuldade, insuficiência, de pressão no local de trabalho que possam prejudicar a prestação de cuidados”.