Há um novo capítulo na campanha das primárias do PS. Sérgio Lopes Cintra, presidente do Conselho da Administração da Gebalis, é acusado numa carta de uma apoiante de Seguro, dirigida a Jorge Coelho, presidente da Comissão Eleitoral, de ter ameaçado os presidentes de junta de Lisboa para angariarem simpatizantes e votos para as primárias do PS, “sob pena” de ver a relação entre a sua freguesia e a Câmara de Lisboa alterada caso isso não acontecesse.

Mas o presidente do Conselho de Administração da Gebalis desmente e diz que a denúncia é “um disparate”. Jorge Coelho recebeu a carta à noite, já depois de o Observador ter publicado a notícia: “Irá ter o tratamento habitual”, garantiu. Os apoiantes de Costa acusam os de Seguro de promoverem uma campanha para denegrir o candidato sem olhar a meios.

A dita carta  — a que o Observador teve acesso — é assinada por Susana Santos. E conta uma história de uma reunião promovida por Sérgio Lopes Cintra, realizada no dia 10 de julho nas instalações da junta de freguesia de São Domingos de Benfica, com a presença de vários presidentes de junta socialistas.

Nesta reunião, diz esse papel de uma apoiante de Seguro, teria sido pedido que angariassem entre 500 e 1000 simpatizantes cada, incluindo funcionários e avençados das próprias juntas. Também foi pedido que as ajudas dadas pelas juntas “a associações, a coletividades, a associações de moradores, a pessoas individuais” se traduzissem em inscrições de simpatizantes, tal como a adjudicação de obras por parte das juntas de freguesia a entidades externas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os presidentes (que não exercem o cargo em regime de exclusividade) terão sido incentivados a tentar angariar simpatizantes no seu local de trabalho, que não a junta. Ter-lhes-à sido pedido que recorressem às bases de dados que têm das suas freguesias, com o mesmo objetivo. O presidente da Gebalis teria dito, segundo a denúncia, que faria o mesmo com a base de dados da empresa municipal, dando como exemplo “a angariação que ia ser feita junto de funcionários e prestadores de serviços na Câmara Municipal de Lisboa”. Os presidentes de junta terão sido avisados na reunião que caso isto não acontecesse, corriam o risco de “o relacionamento CML/Freguesia se alterar”, segundo se pode ler na denúncia.

Desmentidos e a outra versão da história

Sérgio Cintra desmente quaisquer pressões e diz que se trata de “um disparate de alguém que não sabe do que fala”. “Os cobardes não merecem resposta”, disse ao Observador o presidente da Gebalis, acrescentado que a situação é “um absurdo inqualificável”.

Também os apoiantes de Costa falam de uma “guerra suja” vinda da atual direção do partido, para “contaminar a campanha e tentar colar António Costa a procedimentos que não existem e não vão existir”.

Algumas fontes presentes na reunião que é referida na carta, todas elas apoiantes de António Costa, garantem ao Observador que o encontro aconteceu, mas sem qualquer tipo de ameaças. A reunião terá acontecido apenas no âmbito do apoio à candidatura de António Costa e só com os presidentes de junta que estão do lado do ainda presidente da Câmara de Lisboa. Sempre “a título pessoal, não institucional”. Uma destas fontes admite, sim, que foram fixados objetivos para angariar apoiantes para as primárias.

Esta estratégia tem sido usada sem reservas por vários eleitos nas listas que Costa apresentou nas últimas autárquicas para Lisboa. Rute Lima, presidente da Junta dos Olivais, fez esta semana (dia 15 de julho) um post no Facebook precisamente com essa intenção: “Todos os meus amigos que queiram contribuir para a eleição de António Costa como candidato podem contactar-me pelo meu mail pessoal”.

* Este texto foi alterado e atualizado depois das declarações de Jorge Coelho ao Observador e de novos contactos feitos com a candidatura de António Costa.