Quando Charles Darwin chegou às Galápagos em 1835 ficou fascinado com os fenómenos de vulcanismo, as iguanas-marinhas e a mansidão dos tentilhões. Recolheu vários exemplares destas aves e enviou-os para Inglaterra para que fossem identificados. Só mais tarde se apercebeu que pertenciam a espécies diferentes e que uma das chaves de identificação estava nos bicos – estavam adaptados ao tipo de alimentação das aves.

Os tentilhões adaptaram-se ao ambiente onde viviam e aos alimentos que tinham disponíveis – um bico largo e forte para partir as sementes duras que encontra no chão ou um bico fino e longo para se alimentar de insetos que vivem nas árvores. Mais estranho é o tentilhão cujo bico lhe permite alimentar-se de sangue de outras aves – o Geospiza difficilis septentrionalis.

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Ilustrações de John Gould do bico de alguns dos tentilhões que Charles Darwin enviou para Inglaterra

Chamam-lhe tentilhão-vampiro porque é visto muitas vezes a tirar penas a aves marinhas, como os gansos-patolas, bicá-las até abrir uma ferida e depois beber o sangue (vídeo). Talvez se deva à escassez de alimento nas ilhas onde habita, ilhas Darwin e Wolf, no noroeste do arquipélago. Ken Petren, investigador em evolução ecológica na Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, foi para as Galápagos para estudar estas aves. Na verdade, achava que não passavam de um mito, mas o que encontrou deixou-o surpreendido. Os tentilhões-vampiros atacam tanto crias nos ninhos como adultos e as aves marinhas não fazem muito para evitá-lo, talvez porque os bandos de vampiros sejam enormes – existem mais indivíduos desta subspécie do que de todas as outras espécies de tentilhões juntas.

ENDARA 15

Arranca penas, bica até fazer ferida e bebe o sangue – DR

Os tentilhões-vampiros podem ter começado por ser aves que se alimentavam dos parasitas que vivem nas penas de outras aves, mas que por algum motivo descobriram que o sangue é um alimento muito mais nutritivo e mais fácil de obter. O seu bico serve não só para abrir um ferida na carne, mas também para abrir um buraco num fruto e beber o sumo. Também se alimentam de sementes e ovos, ou até do vómito de outras aves. Vale tudo quando o que está em jogo é a sobrevivência.

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