Centenas de protestantes juntaram-se em frente do departamento de Estado norte-americano, em Washington, na segunda-feira, no início da primeira Cimeira das Nações Africana nos Estados Unidos da América, onde estão presentes mais de 40 chefes de estado do continente.

Os manifestantes, na maioria da Etiópia e da República Democrática do Congo, diziam estar zangados com as intenções anunciadas pela Casa Branca no sentido de estabelecer ligações económicas com aqueles regimes opressivos. “Parem de financiar ditadores” ou “Obama, devias ter vergonha”, cantava a multidão.

Obang Metho, diretor do Movimento de Solidariedade para uma Nova Etiópia, lembrou a mensagem do presidente americano aos líderes africanos durante a sua viagem ao continente, em 2009. “África não precisa de homens fortes. Precisa de instituições fortes”, afirmou Barack Obama, na época. “Agora este está a sentar-se com esses homens fortes”, disse Obang Metho, ao New York Times. “Onde é que estão a instituições fortes?”

Nesta terça-feira, Obama vai receber todos os líderes africanos na Casa Branca para um jantar. E na quarta-feira, vai participar de uma série de reuniões com o objetivo de aumentar o investimento dos EUA em África e promover a paz e estabilidade no continente. Ontem, no início da cimeira, a Casa Branca anunciou que irá criar novos programas de assistência focados em promover a igualdade de género em África.

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Joe Biden, vice-presidente dos EUA, inaugurou a cimeira num fórum de estratégias de apoio à sociedade civil. “Não é possível que a vossa população tenha sucesso a não ser que ela tenha uma oportunidade de moldar as politicas do seu governo, identificar problemas, erradicar injustiças e descobrir maneiras para os grupos [leia-se etnias] resolverem as suas diferenças pacificamente”, disse Biden.

Ainda no mesmo dia, John Kerry, secretário de estado norte-americano, também falou aos chefes de estado africanos e teve uma reunião privada com Joseph Kabila, presidente da República Democrática do Congo. Quando Kerry esteve no Congo no início deste ano, “incentivou” Kabila a sair da vida política após o seu mandato atual, como a constituição do Congo obriga. “A grande maioria dos africanos apoia eleições livres, justas e acessíveis e limitar os presidentes a dois mandatos”, afirmou o secretário de estado norte-americano, na segunda-feira. Segundo o New York Times, os manifestantes em frente ao departamento de estado esperavam que a administração Obama continue a pressionar Kabila sobre o limite de mandatos. “O Obama tem de passar uma mensagem clara ao presidente [Congolês] para que ele não mude a constituição de forma a ficar no poder”, afirmou Constant Mbala, uma congolesa que emigrou, há 15 anos, para os EUA.

As ruas entre a Casa Branca e o departamento de estado estavam quase sem trânsito na segunda-feira, conta o jornal. Os residentes de Washington foram avisados que várias ruas iam estar cortadas devido à cimeira.

Facilitar negócios e diminuir taxas

Oficiais do comércio africano encontraram-se com os seus homólogos americanos, na segunda-feira, para a reunião anual sobre Programa de Crescimento e Oportunidade Africano (African Growth and Opportunity Act, conhecido pela sigla de AGOA). O programa é responsável por baixar as tarifas de certos bens importados de África para os EUA, enquanto os países em África não são obrigados a baixar para nenhum bem dos EUA.

Apesar de ser retratado com uma estratégia de que ajuda a diversificar e melhorar outros setores da economia africana, o petróleo ainda conta como três quartos dos bens importados de África com isenção de taxas. Em 2015, o AGOA requer uma renovação da autorização pelo congresso americano.

Uma das questões a ser discutida é se a África do Sul vai continuar a beneficiar do estatuto de comércio preferencial. Alguns especialistas defendem que devido ao seu crescimento económico atual, os EUA também deviam ter um tarifário preferencial para alguns bens da África do Sul. Porém, Jacob Zuma, presidente da África do Sul, na segunda-feira, rejeitou esta ideia. “Estamos ansiosos pela renovação semelhante, incondicional e a longo termo da AGOA com a África do Sul incluído entre os seus beneficiários”, afirmou o presidente da África do Sul.

Os inimputáveis

Para esta cimeira, a primeira em terreno americano, Barack Obama convidou 50 chefes de estado. Mas três ficaram de fora: a Eritreia, país que está a ser alvo de sanções por parte das Nações Unidas e recusa estabelecer relações diplomáticas plenas com os EUA; o Sudão, por causa do seu presidente, Omar al-Bashir, estar incriminado pelo Tribunal Internacional de Justiça e os EUA considerarem o país um dos promotores do terrorismo mundial e, por sua vez, o Zimbabwe. O presidente Robert Mugabe está incluído na lista dos “Specially Designated Nationals” – indivíduos sujeitos a sanções diversas, nomeadamente económicas, interdição de acesso a contas, restrições de entrada e circulação nos EUA, etc.