Apenas um de cada dez erros ortográficos registados na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) foram lapsos “decorrentes do incumprimento do Acordo Ortográfico”. Os restantes dividiram-se por falhas como o “uso incorreto da acentuação” ou a “troca de vogais”, de acordo com o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE).

O órgão, tutelado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) e responsável pela correção da prova, divulgou esta quinta-feira um comunicado “na sequência das notícias produzidas acerca dos erros ortográficos” verificados na prova — na qual, recorde-se, 62,8% dos professores cometeram lapsos de ortografia no item de resposta extensa, no qual lhes foi pedido que escrevessem um texto “com um número de palavras compreendido entre 250 e 350″.

Dos erros verificados, revelou o IAVE, “pode-se concluir que 90%” estiveram relacionados com vários “aspetos da ortografia”. Cerca de “metade do valor total” deveu-se ao “uso incorreto da acentuação”, sendo os restantes erros pertencentes à “troca de vogais”, à “troca de consoantes ou ao [seu] uso incorreto”, à “aplicação incorreta do plural” e, por último, ao “registo incorreto de formas e de conjugações verbais”.

Ou seja, apenas 10% dos erros verificados são “decorrentes do incumprimento do Acordo Ortográfico”, assegurou o IAVE, ressalvando que os docentes tiveram “acesso à informação-prova onde era clara a natureza obrigatória do respeito pelo acordo em vigor”.

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Na quarta-feira, o Movimento Boicote & Cerco, que se assumiu contra a realização da prova, atribuiu os erros à eventual recusa dos professores em aplicarem o novo Acordo Ortográfico. “Que moralidade tem o MEC para falar em erros, se a própria prova tinha pelo menos dois erros graves?”, lia-se, no comunicado divulgado pelo grupo.

Hoje, embora ainda sem uma reação oficial do movimento, Aurora Lima, um dos membros, sublinhou ao Observador que “não há maneira de termos a certeza” nos dados divulgados esta quinta-feira pelo IAVE. “Não há transparência nenhuma. Não se sabe quem são os corretores e o ministro tenta sempre criticar os professores. Como sabemos que essa informação é fidedigna?”, questionou, antes de defender que “há motivos para desconfiar de todas as informações” veiculadas pelo MEC.

Aurora Lima revelou “o intuito” da tutela “não é avaliar as capacidades dos docentes”, mas antes “descredibilizar os professores” e, como tal, assegurou que “não [tem] segurança nenhuma nas informações que saiam” do ministério liderado por Nuno Crato. “Também não reconheço legitimidade a quem avaliou esta PACC. Os critérios [de classificação] são públicos, mas não sabemos o que tiveram em conta além disso”, concluiu.