Há cada vez mais trabalho e menos sacerdotes para apoiar os emigrantes portugueses, disse hoje o diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações, que apela ao envolvimento das comunidades lusófonas nos países de destino para integrar os novos emigrantes.

“Na Europa, a maior parte dos sacerdotes que trabalha com as comunidades emigrantes já não é portuguesa”, afirmou frei Francisco Sales Diniz, notando que, embora esses padres assegurem o acompanhamento na língua materna, “não garantem um acompanhamento a nível cultural e mesmo da forma de viver a fé católica”, situação que preocupa a Igreja Católica nacional.

Falando à agência Lusa no âmbito da peregrinação dos migrantes ao Santuário de Fátima, que hoje começa, o responsável atribui esta situação à “crise vocacional, que não é apenas um problema de Portugal mas do mundo, e ao aumento do número de emigrantes”.

Estima-se que, entre 2007 e 2012, deixaram o país, em média, 80 mil portugueses por ano.

Nos anos mais recentes, estimativas feitas pelo secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, colocavam o número de saídas anuais acima das 100 mil.

Segundo o diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações, organismo tutelado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “as pessoas procuram as missões como tábua de salvação, para procurar diversos serviços e apoios, mas também a nível religioso”.

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“Está muita gente emigrada com crianças que as quer integrar na catequese”, exemplificou, admitindo serem precisos, além de pessoas, “meios económicos” que não existem, pelo que o trabalho é desenvolvido “com a Igreja local dos países de acolhimento”.

O responsável defende, por outro lado, “o envolvimento dos emigrantes que estão nesses países há mais anos, para ajudar, acolher, integrar os que agora chegam, para que estes não caiam em situações dramáticas”.

“Aqueles portugueses que agora partem estão, se calhar, a passar pelas mesmas dificuldades que os seus compatriotas, no passado, pelo que precisam de uma mão amiga”, acrescentou o frei Francisco Sales Diniz.

Na última assembleia plenária da CEP, em maio, os bispos reconheceram “a necessidade de continuar a apoiar o serviço da pastoral dos emigrantes”, dado “o crescimento exponencial da emigração portuguesa nos últimos tempos e com o consequente aumento do número de pessoas que procuram o serviço das missões de língua portuguesa na diáspora”.

Admitindo “alguma dificuldade, por parte das dioceses, em disponibilizar sacerdotes para o acompanhamento das inúmeras comunidades”, os prelados agradeceram aos padres que acompanham os emigrantes nacionais, particularmente “os sacerdotes dos países de expressão portuguesa e outros, de diferentes nacionalidades”, que falam português.

A peregrinação dos migrantes, presidida pelo bispo do Porto, é o ponto alto da 42.ª Semana Nacional de Migrações – este ano subordinada ao tema “Migrações, rumo a um mundo melhor” – que arrancou no domingo e termina uma semana mais tarde, no próximo dia 17.

Nesse dia, o ofertório das missas vai reverter para a Pastoral da Mobilidade Humana.