Bruno de Carvalho contra Godinho Lopes. A guerra ainda não terminou. Na terça-feira, por via de um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), dando conta das propostas para a Assembleia Geral de Acionistas do clube, os leões manifestaram a intenção de avançarem com “uma ação de responsabilidade civil” contra o ex-líder do clube. E não só: Luís Duque, Carlos Freitas e José Nobre Guedes também estão na mira da atual direção do Sporting, por violarem “culposamente os deveres de diligência e cuidado a que estavam obrigados”.

Porquê? Devido a uma série de decisões tomadas em 2011. A primeira é relativa a Marat Izmailov. Em abril desse ano, quando o médio tinha ainda mais dois anos de contrato com o Sporting, os responsáveis do clube decidiram renovar-lhe o vínculo com o russo, por mais quatro épocas — “o que representou um aumento exponencial da remuneração do jogador” no valor de 5.516 milhões de euros, lê-se, na proposta A da Ordem de Trabalhos para a assembleia, que se realiza a 1 de outubro.

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Em maio, recorda o documento, o Sporting pagou 853.360 mil euros à sociedade Gondry Financial Services Limited por “um contrato de exploração dos direitos de imagem” de Izmailov. Um mês depois, a então direção leonina gastou 480 mil euros numa “comissão pela intermediação na renovação do contrato” do jogador paga à Sbass Limited, outra sociedade.

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O aumento exponencial dos custos da Sporting SAD que resultou da renovação do contrato de trabalho
desportivo com o jogador Izmaylov foi um decisão carecida de racionalidade empresarial, porquanto: (i) a situação financeira da Sporting SAD não comportava tal aumento de custos; (ii) o jogador ainda tinha mais dois anos de contrato em vigor; (iii) o jogador tinha sido objeto de diversos processos disciplinares; (iv) o atleta tinha problemas físicos recorrentes; e (v) o rendimento desportivo do jogador desaconselhava a renovação, já que na época em que a mesma foi feita (2011/2012), à data da renovação (Abril de 2011) o jogador apenas tinha realizado uma partida oficial e durante 26 minutos de jogo.

Aos olhos da atual direção, liderada por Bruno de Carvalho, estas decisões violaram “culposamente os deveres de diligência e cuidado” a que estava “obrigada” e causaram “prejuízo à Sporting SAD, cujo montante irá ser concretizado pelos serviços jurídicos competentes”.

O ponto seguinte prende-se com a contratação de Jéffren Suárez ao Barcelona, em Agosto de 2011, por 3.750 milhões de euros. Na altura, o clube firmou com o extremo espanhol um contrato válido por cinco temporadas, no valor de 9.338.710 euros, além de “outras regalias” — isto quando “os administradores foram alertados pelo departamento médico para a não-contratação do referido jogador” sem que “o mesmo fosse sujeito a rigorosos exames médicos”.

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De acordo com os leões, Jéffren não foi alvo de qualquer avaliação médica antes de firmar contrato com o clube. “É prática empresarial aceite que não devem ser contratados jogadores profissionais de futebol sem a realização prévia de exames médicos ou de jogadores que tenham debilidades físicas que os impeçam de exercer a sua atividade plenamente”, sublinha o Sporting, no comunicado.

E o espanhol, recordou o clube, esteve “a maior parte do tempo indisponível” devido a lesões musculares durante as duas épocas em que representou o Sporting — Jéffren apareceu em 39 jogos dos leões entre 2011 e 2013.

Por último, há o caso de Alberto Rodríguez. O internacional peruano foi contratado em maio de 2011, apesar de “o departamento médico de então alertar para as evidentes fragilidades físicas do jogador”, sobretudo devido à “probabilidade de instalação de pubalgia” e ao seu “perfil lesional recorrente”.

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Resultado: dos 56 encontros oficiais que o Sporting realizou em 2011/2012, o defesa central “participou em 13, ou seja, em menos de 25% dos jogos”. O peruano, acrescentou o documento, esteve “quase dois terços da época parado” devido a problemas físicos.

A par das lesões, contudo, a direção de Bruno de Carvalho apontou também o prémio de assinatura pago a Alberto Rodríguez, no valor de 836.400 mil euros, além de uma comissão de 492 mil euros paga à Gestifute — empresa detida por Jorge Mendes, à qual o Sporting também concedeu 30% dos direitos económicos do jogador.

Caberá agora aos acionistas da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Sporting decidirem se o clube avança com uma “ação de responsabilidade civil” contra dirigentes da antiga administração dos leões. Luís Godinho Lopes, recorde-se, foi presidente do Sporting entre 2010 e 2013, enquanto Luís Duque e Carlos Freitas exerceram as funções de administrador da SAD e diretor desportivo de março de 2010 a outubro de 2012. Já José Nobre Guedes foi vogal da SAD até março de 2013, quando Bruno de Carvalho foi eleito como novo presidente do Sporting.

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