A Securities and Exchange Comission (SEC), a Federal Deposit Insurance Corp., a autoridade de regulação da Florida e uma organização de auto-regulação de Wall Street estão a investigar as atividades do Espírito Santo Bank (ESB), de Miami, com um interesse especial nas relações entre esta instituição financeira e outra, também integrada no Grupo Espírito Santo (GES), sedeada no Panamá. A informação foi publicada pelo Wall Street Journal que recorda o facto de o banco localizado naquele país da América Latina fazer a esmagadora maioria dos seus negócios com empresas do GES e de ter sido alvo de resgate por parte das autoridades panamianas em julho passado.

O ESB, refere a publicação, opera a partir de um escritório instalado num edifício de que o GES é proprietário, através da holding Rio Forte, baptizado de Espírito Santo Plaza. Com base em Miami, o ESB centrou a atividade na gestão de património de clientes sul-americanos de rendimentos elevados, que investem, sobretudo, em imobiliário no estado do sudeste dos Estados Unidos. A unidade financeira foi um dos pilares da reconstrução do GES após o processo de nacionalizações em Portugal, em 1975, e antes do regresso do Grupo a Portugal onde, em 1991, entrou com sucesso na corrida à privatização do Banco Espírito Santo (BES).

“Muitas coisas que foram desenterradas eram inapropriadas e agora estou a tentar consertá-las”, afirmou ao WSJ Frederick Reinhardt, líder executivo do ESB. O gestor, que trabalha desde 2012 na instituição, revelou ter entregue à Financial Industry Regulatory Authority (Finra) informação relativa aos fluxos realizados entre Miami e o Panamá quando as operações foram descobertas, em 2013.

As autoridades de supervisão suspeitam que a forma como os gestores de fortunas do ESB atuavam na relação com os clientes do Panamá violava as regras internas da instituição e normas, estaduais e federais, relativas ao setor bancário mas, também, ao mercado de valores mobiliários. Entre os gestores sob suspeita encontra-se Jorge Leite Espírito Santo Silva, o mais alto representante da família nos Estados Unidos, dispensado do cargo que ocupava no ESB em 22 de julho passado por, alegadamente, não conformar a sua atuação com as regras internas em vigor.

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Parte dos problemas detetados não é diferente daquilo que sucedeu com o Banco Espírito Santo (BES) em Portugal, incluindo a venda de títulos de dívida do GES a clientes, uma prática que já tinha dado origem a problemas no início da década de 2000, quando credores sul-americanos e europeus ficaram na posse de 140 milhões de dólares [mais de 101 milhões de euros] em dívida do Grupo que se provou não ter qualquer valor, devido a um processo fraudulento. Na altura, a Espírito Santo International (ESI), que agora está em processo de insolvência nos tribunais do Luxemburgo, assumiu as responsabilidades e reembolsou os clientes.

Em fevereiro de 2013, prossegue o jornal, a Finra aplicou à ES Financial Services, a empresa de corretagem do ESB, uma coima de 200 mil dólares [145 mil euros] por vender aos respetivos clientes 140 milhões de dólares em papel comercial emitido pela ESI sem explicar os riscos envolvidos na aplicação. Agora, as autoridades tentam perceber as relações e ligações entre as instituições de Miami e do Panamá, onde Jorge Leite Espírito Santo Silva era, respetivamente, membro da administração e presidente. A informação já recolhida pela Finra indica, também, que 96% dos clientes do banco panamiano do GES eram pessoas ou empresas relacionadas com o grupo.

O ESB, que tem um total de ativos no valor de 735 milhões de dólares [532 milhões de euros] está, atualmente, em processo de venda. A operação está a ser preparada com o apoio da FIG Partners, empresa que tem sede em Atlanta, Geórgia. No início de agosto passado, quando o Banco de Portugal decidiu cindir o BES num “banco bom” e num “banco mau”, o ESB foi colocado sob a tutela deste, embora os depósitos tenham transitado para a responsabilidade do Novo Banco.