Falta pouco mais de uma semana para as eleições primárias que vão escolher o candidato socialista a primeiro-ministro. E os dois candidatos, que se desdobraram em dezenas de entrevistas e declarações ao longo de quatro meses de disputa e de dois debates televisivos, ainda têm muitas dúvidas sobre o que defende o seu adversário. António José Seguro e António Costa acusam-se mutuamente de não apresentarem propostas novas ou de não as concretizarem. O Observador desafiou dois costistas – Durte Cordeiro e Pedro Delgado Alves – e dois seguristas – Eurico Brilhante Dias e João Soares – a fazerem perguntas ao outro lado para se perceber o que falta explicar por cada uma das candidaturas.
Do lado de Seguro, continua por esclarecer o que levou António Costa a desafiar o secretário-geral do PS. Para Eurico Brilhante Dias, ainda não foi possível perceber se esse desafio se deveu a alguma “divergência política ou programática” ou apenas “pessoal” e que o autarca ainda não especificou o que defende a nível da dívida, défice ou agenda para o crescimento. E deixou estas três perguntas:
- “Concorda com a reestruturação da dívida proposta por Pedro Nuno Santos?”
- “Concorda com a aplicação do Tratado Orçamental?”
- “Concorda com a reforma do sistema eleitoral?”
João Soares, também apoiante de Seguro, quer perceber afinal o porquê?.
- “Não se sente incomodado com o apoio de Luís Montez ou de Godinho de Matos, administrador à senha do BES mau, e outros do mesmo tipo, num momento em que a promiscuidade entre o centrão de negócios e a política é tão dramática para o regime democrático?”
- “Porque não se candidatou há um ano, quando houve por sua causa um processo de diretas e quando essa candidatura teria poupado o PS?”
Do lado de António Costa, ainda não está esclarecido que rumo quer António José Seguro para o futuro e também não percebem bem o que defende em termos de políticas sociais porque não o ouviram falar sobre o trabalho passado. Pedro Delgado Alves, deputado e membro da candidatura de António Costa, deixa as três perguntas a António José Seguro:
- “Como é possível o PS continuar hoje a recusar-se a fazer o balanço do histórico das políticas sociais, da educação e qualificação? O que foi positivo nos governos PS? É um aspeto que nunca foi esclarecido.”
- “Face à narrativa de austeridade da direita, de a crise ser um problema nacional, neste contexto não se percebe porque não foi pedida fiscalização do Orçamento do Estado de 2012. Porque não pediu a bancada do PS em termos formais? A defesa da Constituição foi errática.”
- “Esta obsessão em mudar o sistema eleitoral levanta questões novas, é ir à procura do voto de protesto. Este grau de populismo é a nova marca do PS? Se o PS abarca o discurso desqualificador dos políticos, que todos são corruptos e que precisam de ser amordaçados, veio para ficar?”
Também Duarte Cordeiro lembra a relação com o passado, mas aponta perguntas a políticas pública concretas:
- “Porque é que aceitou a argumentação da direita para a justificação da crise, nomeadamente ao não dar devido peso à crise internacional e interiorizar a responsabilidade de anteriores governos, nomeadamente o Governo PS?”
- “Porque fez um acordo para a reforma do IRC ignorando a progressividade de outros impostos como o IVA e o IRS e ignorando, no próprio IRC a necessidade de distinguir o reinvestimento dos lucros para efeitos de investigação científica e outros?”
- “Se se diz um homem solto e novo como é possível não ter sido honesto e só ao fim de três anos se conhecerem algumas posições e facetas de António José Seguro?”
Falta um debate, marcado para dia 23 da RTP, entre os dois candidatos. As eleições primárias são a dia 28.