Se, nos últimos três anos, António Costa tem feito discursos quase como líder da oposição nas comemorações do 5 de outubro, o deste domingo foi um discurso de despedida da Câmara Municipal destas comemorações. Não sem antes prestar contas do que fez em Lisboa e querer para o país o que fez na capital.
“Descentralização” é o modelo que António Costa, o autarca, diz ter feito em Lisboa e que defende tem de ser “a pedra angular” da reforma do Estado. No discurso menos crítico ao Governo dos últimos anos, o agora candidato do PS a primeiro-ministro, preferiu elogiar o trabalho que tem feito em Lisboa, quando esta pode ser o último discurso nos Paços do Concelho enquanto presidente.
Tendo em conta a descentralização de tarefas que levou cabo, António Costa declarou: “temos hoje um município liberto de um conjunto de tarefas”. Ou seja, “um município focado no que pode fazer melhor que as freguesias”, sobretudo na “dinamização económica e cultural” da cidade. E rematou ao dizer que esse deve ser o modelo que deve ser alargado ao país: “Temos hoje um município apto e disponível para acolher a descentralização de competências do Estado na saúde e educação”.
Para defender esta tese, Costa assegurou que “as freguesias e os municípios não são contra-poder” e que precisam neste momento de um novo modelo de financiamento. O autarca lembrou que com a mudança de paradigma, de investimento na reabilitação urbana e não na construção, com mais arrendamento e menos casa própria, os cofres das autarquias sofreram uma quebra e, por isto, é necessário repensar como se podem financiar. Para resolver o problema, defende que as câmaras devem virar-se para a dinamização económica.
Falar do poder local foi um dos pontos-chave do discurso de António Costa que, no entanto, só foi mais aplaudido quando defendeu a reposição dos feriados de 5 de Outubro e de 1 de Dezembro. “Esperamos que brevemente sejam restabelecidos os feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro – mas mesmo antes que isso aconteça, nunca deixaremos de comemorar estes momentos históricos”. Passos Coelho estava ao lado e ouviu o recado daquele que o quer substituir como futuro primeiro-ministro.
Mas este foi o único recado mais direto ao Governo. De resto, António Costa esteve mais contido do que aquilo que foi habitual em intervenções anteriores de comemoração da implantação do regime republicano. Terminou o discurso das comemorações, este ano, com muito menos público do que em ocasiões anteriores, dizendo que “num tempo de dificuldade e descrença é nosso dever restabelecer a esperança em Portugal. Celebrar a República não é apenas celebrar um passado memorável, é construirmos um futuro melhor, mais digno e mais decente para todos os portugueses.