Quando uma pessoa erra, é humana. E quando se engana? Mais uma humana será. É normal, acontece e, quando há uma bola a rolar sobre a relva, é sempre provável que as coisas não corram bem a toda a gente. Mas isso não impede ninguém de tentar endireitar o que está torto. E o primeiro passo está em reconhecer que a primeira escolha não foi a melhor.
Marco Silva fê-lo em Penafiel. Aí, no Estádio 25 de Abril, não foi preciso fazer uma revolução. Mas era necessário mudar. O Sporting estava amorfo, sem ideias, incapaz de acelerar o jogo quando tinha a bola e de se soltar das amarras que a equipa da casa, encolhida, lhe atirava a defender. Pouco depois do intervalo, viu que William Carvalho, lento e complicador com nunca foi costume, e André Martins, infértil nas coisas que estava a fazer, não ajudavam. Trocou-os por Adrien Silva e Fredy Montero. Tirou um trinco e um médio, colocou um avançado e outro médio. Resultou: a equipa venceu 4-0 e até o avançado colombiano marcou (dez meses depois).
No Dragão, a rotatividade deu a Lopetegui a desculpa para continuar a inventar. Ivan Marcado, um central, voltou a ser trinco. O espanhol tem bom pé esquerdo, não falha passes, sabe como e onde defender e não tenta fazer coisas complicadas. Sim, mas a equipa não está habituado a ter ali um jogador mais pesado, mais lento, sem o chip de estar sempre a trocar de posição com os outros e a acelerar o jogo. Ao intervalo, portanto, o treinador trocou-o por Rúben Neves. A diferença: o FC Porto começou a jogar bem, a trocar a bola e acabou a ganhar.
Tanto Marco Silva como Julen Lopetegui detetaram erros e souberam agir para os tentarem corrigir. Conseguiram. Mas será sempre melhor acertar à primeira do que esperar que, à segunda, um remendo lhes dê sucesso.
Rixas, zaragatas, conflitos, lutas e agressões. Pela segunda vez esta época, ouvimos uma destas palavras vir à baila por causa de um jogo realizado no Estádio D. Afonso Henriques. Primeiro, a 14 de setembro, a partida entre o Vitória de Guimarães e o FC Porto chegou a parar durante quase oito minutos devido a uma confusão nas bancadas. Vários adeptos chegaram a saltar a vedação e a ficarem a metros do relvado, para fugirem de uma carga policial. No dia seguinte, a PSP justificou tudo com uma rixa entre “grupos de adeptos organizados não legalizados” do Vitória.
Resultado: cadeiras a voarem, vários agentes da polícia com ferimentos ligeiros e um adepto ferido. Na sexta-feira surgiu o segundo capítulo — um apoiante do Boavista foi agredido por agentes policiais à porta do estádio, foi internado num hospital e corre agora o risco de perder a visão num dos olhos. O que se passa em Guimarães? É urgente que o recinto, que há anos se gaba de ter as melhores casas após os três grandes, deixe de acolher rastos de violência. O importante é o futebol.
“Ficámos endeusados com o que fizemos na primeira parte.” A confissão veio de Leonel Pontes. Ou melhor, o lamento. O treinador do Marítimo falava dos 45 minutos iniciais em que a sua equipa anulou, controlou e se superou ao Paços de Ferreira. Estava melhor e isso via-se em tudo. No resultado também: ganhava 1-0 ao intervalo. Depois, na segunda parte, o descalabro. Em 15 minutos sofreu três golos e acabaria por perder. Entre o oito e o 80, assim segue o Marítimo, única equipa que ainda não empatou na liga e, com esta derrota (a terceira), deixou-se ultrapassar pelo Sporting. Deixou de seguir o exemplo do Vitória de Guimarães — de se intrometer entre os grandes na tabela.
Vitória de Guimarães 3-0 Boavista
Penafiel 0-4 Sporting
Paços de Ferreira 3-2 Marítimo
Académica 0-0 Moreirense
Gil Vicente 1-1 Estoril
FC Porto 2-1 Sporting de Braga
Benfica 4-0 Arouca
Nacional da Madeira 0-0 Rio Ave
Belenenses 1-1 Vitória de Setúbal
A fronteira dos 70/75 minutos. Foi essa que tramou Penafiel e Arouca, equipas que aguentaram a fórmula e estratégia durante muito tempo mas, a partir daí, sucumbiram perante Sporting e Benfica. Terminaram ambos goleados por 4-0. Quem não arranja forma de ganhar é o Gil Vicente, que segue em último, com dois pontos e 16 golos sofridos, o pior registo entre quem anda nesta aventura da primeira liga. Poderão, talvez, olhar para o Moreirense — em sete jogos ainda só marcou três golos, o suficiente para ter sete pontos.
Como? Simples: só deixou que os adversários lhe marcassem sete e só deixou que fossem os grandes a levarem-lhe a melhor. As duas derrotas foram contra o FC Porto, por 3-0, e frente ao Benfica, 3-1, ambas em casa alheia. Bravo. Só falta vencer mais e empatar menos.