Uma hora e meia de futebol e ninguém fez o que era suposto: 0-0. Golos procuram-se. Onde? Em Chiajna, nos subúrbios de Bucareste. Foi lá que, no domingo, as atenções se desviaram de um empate que deu um ponto ao Concordia, equipa da casa, e outro ao Rapid, clube da capital romena. Quando o árbitro apitou três vezes e acabou com a partida, contudo, Wellington estava a chorar. Não por culpa do nulo. Mas do que veio da bancada — uma casca de banana.

E não foi a única coisa. Durante o encontro, o brasileiro, avançado, foi ouvindo cânticos e insultos racistas, vindos da parte da bancada que alojava os adeptos do Rapid. De vez em quando, até os via a imitarem macacos. “Queria sair de campo. Não sou um macaco. A minha mulher e o meu filho estavam no estádio”, lamentou Wellington, já depois de terminada a partida na qual, às tantas, se queixou ao árbitro e disse-lhe que pretendia abandonar o relvado. Em resposta, o oficial mostrou-lhe um cartão amarelo, aos 59 minutos. “É incrível o que aconteceu”, resumiu o jogador do Concordia Chiajna, equipa onde também está Ricardo Alves, português e defesa central de 25 anos, que lá chegou esta época, vindo do Marítimo.

https://www.youtube.com/watch?v=HowGt8wCwDA

O jogador, de 27 anos, ficaria em campo até ao fim. Até chorar. “As pessoas que fizeram isto são umas idiotas e espero que a Federação [de Futebol da Roménia] faça alguma coisa quanto a isto”, defendeu, citado pelo The Guardian. A entidade até fez. Mas antes, e logo após o jogo, o treinador do Rapid de Bucareste ainda teve algo a dizer. “Ele chorou como uma menina. Não vê o que se passa nos teatros? Talvez devesse ter chorado por não ter marcado um golo”, argumentou Marian Rada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E não ficou por aqui. “Como é que ele sabe que foi um adepto do Rapid? Talvez a banana tenha apenas escorregado das mãos de alguém que estava nas bancadas”, disse o treinador, de 54 anos. Só depois é que a federação romena se pronunciou — o incidente, por ter acontecido no campeonato do país, está fora da jurisdição da UEFA ou da FIFA. Esta quarta-feira, a entidade que regula o futebol romeno castigou o Rapid com uma multa de cerca 5 mil euros, além de dois jogos à porta fechada no seu estádio.

Já o Concordia Chianjna terá de desembolsar quase 3.300 euros. Quanto aos comentários de Marian Rada, nada. O treinador do Rapid, contudo, e só depois de a federação ter divulgado estes castigos, já pediu desculpa pelas suas declarações. “Na conferência de imprensa após o jogo eu desaprovei os gestos dos adeptos. Peço desculpa se fui mal interpretado, especialmente porque tenho na minha equipa um jogador negro, de quem gosto muito”, explicou.

Depois, o clube, por via de um comunicado, defendeu que o homem que lançou a casca de banana na direção de Wellington “não estava na área reservada para os adeptos” do clube, já que se encontrava numa zona “onde apenas se entrava com convite”. O Rapid considerou o ato “desprezível” e o clube disse estar “extremamente revoltado” por este ter acontecido numa partida que envolveu a sua equipa. “Foi um ato individual de um espetador, que terá de suportar o mais rapidamente possível as consequências da lei”, sublinhou. O que aconteceu, porém, não se tratou de um castigo.

WellingtonAdepto

Imagem publicado pelo Rapid de Bucareste na página oficial do clube no Facebook, na qual se vê Wellington a apertar a mão ao alegado adepto que, na sexta-feira, lhe atirou uma casca de banana.

Esta quarta-feira, o clube publicou na sua página oficial de Facebook algumas imagens de Wellington a apertar a mão ao adepto em causa — o avançado brasileiro concordara em encontrar-se com o tal que, na sexta-feira, lhe atirara uma casca de banana no estádio. “Admiti que estava errado e pedi-lhe desculpas. Disse-lhe que no próximo jogo, em Bucareste, serei o seu maior fã”, terá dito o adepto, ao ser citado pela MediaFax, uma agência noticiosa romena.

Quanto ao brasileiro, o avançado terá perdoado o adeptos, antes de lhe prometer entregar uma camisola autografada. Foi avançado, aliás, que ambos estarão presentes numa conferência de imprensa, a realizar no final da semana, para formalizarem a reunião. E, de repente, tudo acabou bem — quando começou mal.