Artur Mas não desiste. Depois de deixar cair o referendo sobre a independência da Catalunha, o presidente do governo da região anunciou esta terça-feira que haverá uma votação, sim, mas noutra modalidade para contornar as restrições do Tribunal Constitucional espanhol, conta o Guardian. A data do referendo — 9 de novembro — mantém-se.

Esta votação será aberta a catalães com mais de 16 anos e será organizada por cerca de 20 mil voluntários, sem que haja uma formação do protocolo eleitoral. Artur Mas espera contar com “milhares” de mesas de voto em todos os municípios da região. “No dia 9 de novembro haverá consulta, haverá boletins de voto e caixas para os votos”, afirmou o presidente do governo catalão. Será um recuo? “Pelo contrário. Este governo está comprometido em celebrar um referendo a 9 de novembro”, afirmou Mas. Uma sondagem publicada no El País este mês dava conta que 23% dos catalães apoiam a ideia de se avançar com um referendo ilegal. No entanto, 45% deles quer ver o governo a respeitar a ordem do Tribunal Constitucional.

Mariano Rajoy, o primeiro-ministro espanhol, que insistiu nos últimos tempos que o referendo da Catalunha era ilegal, mostrou-se satisfeito com o alegado recuo dos catalães. “Excelentes notícias”, disse. Essas declarações não demoraram muito a receber o troco de Artur Mas. “Às vezes, excelentes notícias só duram umas horas”, disse, como quem desafia e promete um volta-face a qualquer momento.

Na segunda-feira, dia 13 de outubro, Mas reconheceu perante os partidos que apoiavam a causa independentista que seria impossível realizar o referendo, contou o El País. Numa reunião tensa, o presidente do governo catalão terá anunciado aos partidos um plano B, que passava por um processo de participação dos cidadãos para conhecer a opinião deles sobre o futuro político da região. Et voilà, foi isso que foi anunciado esta terça-feira.

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A reunião de segunda-feira entre o presidente do governo e os vários partidos começou ao meio-dia e alongou-se até depois das nove da noite. Artur Mas apelou ao apoio do CiU, Esquerra, Iniciativa e CUP para colaborarem na organização do tal processo alternativo. Sem sucesso, até ver. Os partidos em questão gostavam mais da versão “haverá referendo custe o que custar” do que o ponto de interrogação que pairou sobre o território catalão nesta segunda-feira.

Segundo o diário espanhol esta alternativa, algo que a Generalitat recusava há somente quatro dias, baseia-se em retirar o máximo partido dos artigos da lei catalã que o Tribunal Constitucional não suspendeu. Fontes dos partidos que estiveram na negociação disseram ao El País que o objetivo é celebrar o que a lei denomina de “processo participativo”. Os partidos pró-independência, que até agora apoiavam o presidente Mas, não gostaram desta mudança de ventos. Este ato de participação popular, dizem, não terá qualquer validade junto da comunidade internacional e é por isso que torcem o nariz. Foi esta falta de apoio por parte dos partidos que fez prolongar a reunião, para que não tivesse de ser anunciado o fim do consenso entre o presidente e as quatro formações políticas.

O presidente do Conselho de Transição Nacional, Carles Viver-Pi i Sunyer, defendeu a convocação de eleições antecipadas, que teriam um cariz plebiscitário sobre a independência. Segundo Viver-Pi, este plano B tem “a vantagem de ser um processo dentro da legalidade”, que dificilmente será proibido. “A convocatória é feita pelo presidente através de um decreto, que não é impugnável, e os programas dos partidos em princípio tão-pouco são impugnáveis”, afirmou, em declarações à Catalunya Ràdio. E acrescentou: “O Parlamento tinha um mandato para convocar uma votação. [Com o plebiscito] seria um mandato novo, que é para fazer um novo Estado.”