As crianças têm sido as mais afetadas pelo aumento da pobreza ou da exclusão social em Portugal nos últimos anos. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a propósito do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, que se celebra esta sexta-feira, quase um terço das crianças (31,6%) entre os zero e os 17 anos estavam, em 2012, o ano mais duro da crise, em risco de pobreza ou a viver em agregados familiares com intensidade laboral muito reduzida ou em situação de privação de material severa.

Além de ser o grupo mais afetado pela pobreza, a população infantil registou o maior aumento do risco de pobreza ou exclusão, tendo passado de uma taxa de 27,8%, em 2011, para 31,6%, em 2012. Olhando para o universo da população portuguesa, o risco era de 27,4%, em 2012, sendo que os mais idosos são os menos penalizados (20,3%).

O INE recupera dados que já tinha publicado em março, sobre a taxa de risco de pobreza que, em 2012, rondava os 18,7% do total de portugueses, acima da média da União Europeia (UE). Também neste indicador, a população infantil está em desvantagem, com uma taxa de 24,4%. Porém, esta pintura não é exclusiva para Portugal. Lê-se no destaque do INE que “a tendência para o risco de pobreza na população infantil ser superior ao da restante população é comum ao observado para a média da UE”, com a diferença de que no conjunto dos países-membros da UE o efeitos das transferências sociais fazia cair em cerca de 14,3 pontos percentuais a taxa de risco das crianças. Já em Portugal o efeito dessas transferências ficava-se apenas por uma redução do risco de 7,3 pontos percentuais.

Numa comparação com 27 estados-membros, Portugal pontua pior também no indicador do risco de pobreza das famílias com crianças dependentes que, em Portugal, é “superior à média da UE”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Estudar mais afasta famílias da pobreza

O discurso de que estudar compensar não é novo, mas neste dia pode ser empregue com outro sentido. De acordo com os dados do INE, estudar mais reduz a probabilidade de uma pessoa cair em risco de pobreza. O risco de pobreza para uma pessoa com o 12º ano ou uma licenciatura (10,7%), em 2012, ficava-se pela metade do risco de pobreza que enfrentava uma pessoa que só tinha frequentado o ensino até ao 9º ano de escolaridade (21,2%).

E este ganho reflete-se naturalmente na população infantil. O INE conclui que o risco de pobreza para os mais novos diminui com o nível de escolaridade dos pais. E a diferença é muito significativa. Segundo o documento que foi publicado esta quinta-feira, com algumas novidades face ao de Março deste ano, o risco de pobreza para uma criança entre os 0 e os 18 anos cujos pais só tenham o ensino básico era, em 2012, de 37,5%, uma percentagem que cai drasticamente, para os 4,1%, no caso das crianças cujos pais têm, pelo menos, uma licenciatura.