Na semana em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou um agravamento do vírus Ébola nos países africanos que fazem fronteira com a Serra Leoa e a ocorrência de casos em sete outros países do mundo, a prevenção foi redobrada na Guiné Conacri. O português Emanuel Gonçalves, a viver e a trabalhar em Conacri, a capital, desde abril, testemunhou ao Observador como tem sido viver ao lado do vírus. Só agora se evitam “apertos de mão”.

“Desde a semana passada que se têm multiplicado o número de estabelecimentos com alguém à entrada que mede a temperatura de quem deseja ali entrar”, diz Emanuel Gonçalves, um português de 36 anos.

Antes, já se assistia a medidas de prevenção excecionais. Pelo menos foi o que Emanuel sempre viu desde abril, quando chegou para trabalhar como perito internacional de Apoio ao Desenvolvimento, trabalho que faz para a União Europeia. Fala de água com lixívia ou outro desinfetante à porta de todos os estabelecimentos comerciais.

Na semana passada (13 de outubro), a OMS anunciou que o vírus do Ébola estava a agravar-se na Guiné Conacri, na Libéria e na Serra Leoa, com 4.493 mortes registadas até 12 de outubro. Em Conacri, a capital, registou-se um “aumento de casos”. A OMS alertou ainda para o facto de o vírus já ter sido detetado em sete outros países do mundo.

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O dia-a-dia naquele país não deixa passar este receio. Notam-se cuidados de higiene adicionais, mas só desde a semana passada isso se refletiu no comportamento das pessoas.

“Percebi que algo mudou porque as pessoas com quem me relaciono regularmente deixaram de dar o tradicional “aperto de mão” matinal, que foi substituído por uma mera saudação evitando-se o contacto físico”, disse ao Observador.

Também nos aeroportos começa a haver cuidados excecionais. Emanuel já viajou para Portugal três vezes nos últimos seis meses. No aeroporto de partida tiraram-lhe a temperatura e fizeram-lhe um inquérito sanitário. Na chegada, nada. No grupo de pessoas mais próximas, houve já quem lhe dissesse que isso mudou. Em Paris, que recebe voos diretos de Conacri, já estão a tomar procedimentos nas chegadas.

Emanuel Gonçalves, que não conhece qualquer caso de alguém próximo que tenha contraído o vírus, não sente medo. Mas tem “receio”, mais pela parca assistência médica naquele país do que pelo vírus. “Estou num país onde os cuidados de saúde para tratar seja que enfermidade for são precários”.