Um resultado líquido consolidado negativo. Quanto? 40,7 milhões de euros. Um prejuízo “conjuntural e atípico”, defendeu Fernando Gomes, administrador da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do FC Porto, e causado “sobretudo” pela diminuição dos lucros vindos de vendas de jogadores, explica um comunicado que o clube enviou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), publicado esta terça-feira. E mais: o clube anunciou que, na próxima temporada, tentará arranjar parceiros para substituírem a Portugal Telecom (PT) e o Novo Banco.

E isto vai mais além do que os patrocínios que se estampam nas camisolas dos dragões. Os contratos que ligam o clube às duas empresas terminam este ano, revelou Fernando Gomes, administrador para a área financeira da SAD, embora sem especificar uma data. “O Novo Banco tem tido, com o FC Porto, uma relação idêntica à que tinha antes do desastre, com uma política de financiamento irrepreensível”, algo que acontece, assegura, porque “também o clube tem idêntico comportamento, é um cliente cumpridor”.

Ainda assim, “serão menos dois parceiros a partir da época 2015/16 e, por isso, um duro golpe nas receitas de patrocínios”, revelou o administrador, admitindo ao mesmo tempo que “o FC Porto já está em campo para encontrar novas parcerias”. Fernando Gomes revelou ainda que o empréstimo obrigacionista — a 30 de junho estava próximo dos 19,3 milhões de euros — atinge o prazo de maturidade em maio de 2015 e “será reformulado para [mais] quatro anos“.

Perdas à custa das vendas de jogadores

Quanto aos resultados financeiros, a SAD portista revelou um prejuízo de 40,7 milhões de euros. O administrador dos dragões justificou os números negativos com os maus resultados desportivos da época passada e o não-registo de cerca de 25 milhões de euros correspondentes às transferências dos jogadores Eliaquim Mangala e Steven Defour — que ocorreram quando o exercício da época 2013/14 já estava fechado.

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Além das verbas alcançadas com a transferência dos dois passes para o Manchester City e Anderlecht, respetivamente, também os 10 milhões da presença da Liga dos Campeões só serão contabilizados no atual ano desportivo, como obrigam as regras da UEFA. Porquê? O FC Porto não garantiu a presença na prova antes de 30 de julho, conseguindo-o apenas em agosto, após ultrapassar os franceses do Lille no play-off.

“O mundial de futebol trouxe sérios reflexos às contas”, disse o dirigente, durante a apresentação das contas aos jornalistas, na manhã de terça-feira, no pavilhão Dragão Caixa. Fernando Gomes explicava assim, por exemplo, a resolução dos contratos com Mangala e Defour, o francês e belga que participaram ambos na Copa do Mundo que decorreu no Brasil.

Ora, manda o rigor contabilístico, as regras da UEFA e a entidade reguladora (a CMVM) que os valores das transferências, assim como o prémio de presença na Champions, seja apenas registado nas contas do corrente exercício, “no qual o FC Porto já tem garantidos esses 35 milhões de euros”, disse o responsável. “Financeiramente, não temos problemas a enfrentar”, reforçou o administrador”, para quem a incorporação dessa verba no atual exercício “é um bom indicador para apresentar bons resultados”.

Segundo os dados anunciados pela SAD, “o resultado líquido consolidado é negativo em 40,701 milhões de euros, o que é bastante inferior ao obtido no período homólogo, em que foi positivo em 20,356 milhões, principalmente devido à diminuição dos resultados com passes de jogadores”.

O mesmo relatório refere que, “ainda que o resultado de exploração seja negativo, a sociedade continua dentro do valor recomendado pela UEFA para o rácio salários versus proveitos operacionais (…), apresentado um valor na ordem dos 67 por cento”, sendo que o limite é de 70 por cento.

Clube será dono de mais de dois terços da SAD

Por outro lado, justificou o recente aumento de capital da SAD numa perspetiva de antevisão “destes resultados negativos”, o que teria de ser realizado até 31 de dezembro “para que o FC Porto não seja penalizado em função do fair-play financeiro”.

Nesse sentido, relevou o reforço da participação do clube na SAD, que será de 72,5% após a Oferta Pública de Aquisição (OPA), a anunciar na próxima semana: “Como, com a atual legislação, não há limite máximo para a participação dos clubes nas sociedades desportivas, assim bloqueamos o capital social da SAD do FC Porto a qualquer ataque de investidores externos”.

“Assim, são os sócios que controlam a SAD e, quantos às contas, os remendos estão encontrados e executados”, concluiu Fernando Gomes.

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