Cartazes que misturam frases em português com a respetiva tradução em mandarim, a promoverem a venda de imóveis – sobretudo de luxo -, em Lisboa. É assim o arranque da descrição que o jornal norte-americano Global Post desenhou da capital portuguesa, que se tornou também a capital do investimento chinês na Europa depois do lançamento, em 2012, do programa de vistos gold pelo Governo.

Os chineses já foram responsáveis por cerca de 80% de todo o investimento trazido por este programa a Portugal, ou seja, mais de 720 milhões de euros, aos quais se somam ainda as compras de diversas empresas, como a Fidelidade ou a EDP. Mas um pouco por toda a Europa os investidores chineses têm entrado em empresas anteriormente públicas e conseguido acordos económicos que fizeram quadruplicar a presença chinesa no continente só entre 2010 e 2012.

“Os investimentos da China na Europa são motivados por mais do que o simples desejo de aproveitar as oportunidades trazidas pela crise da zona euro. Os chineses sabem que têm de diversificar os seus bens e não se podem dar ao luxo de deixar 3,9 biliões de dólares de reservas de moeda estrangeira – as maiores do mundo – paradas”, argumenta o Global Post.

Apesar de o investimento chinês estar a aumentar na Europa, nomeadamente em Portugal – onde a procura de imóveis nas melhores zonas de Lisboa (Parque das Nações e Martim Moniz estão entre os desejos, por exemplo) e de outras cidades tem sido uma constante -, os chineses queixam-se de haver demasiada burocracia, o que os tem impedido de investirem ainda mais no espaço europeu.

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Por outro lado, alerta o jornal, há quem considere que a necessidade de lucros rápidos dos estados da União Europeia comprometa a futura segurança dos países onde os chineses têm investido.

“A União Europeia é encarada pelas empresas chinesas como tendo um ambiente de investimento estável, com tecnologias avançadas, trabalhadores competentes, legislação transparente… Além disso, é considerada como um mercado relativamente aberto, com poucas barreiras de entrada e sem história de oposição aos investimentos chineses nos territórios nacionais”, concluiu um estudo levado a cabo pela câmara de comércio da UE na China.

O facto de empresas chinesas terem hoje posições estratégicas em setores considerados fulcrais pelos países europeus, como o da energia, levanta “preocupações de que as empresas estatais chinesas possam funcionar como ferramentas de diplomacia estrangeira do governo comunista”, afirma o artigo, alertando ainda para o perigo de “tecnologia sensível europeia acabar nas mãos erradas”.

Algo com que João Marques da Cruz, membro do conselho de administração da EDP e presidente da Câmara de Comércio Luso-Chinesa, não parece preocupado. “Seria uma contradição acolher um investimento e depois admitir que há problemas de soberania ou de segurança”, disse ao Global Post.