Os remédios defendidos em 2010 pelo FMI para relançar a economia após a crise financeira de 2008 estiveram “longe de serem eficazes” e centraram-se demasiado em medidas de austeridade orçamental, conclui uma avaliação interna da instituição, divulgada esta terça-feira.

“O ‘cocktail’ de medidas promovido pelo Fundo Monetário Internacional esteve longe de ser eficaz no âmbito do suporte à retoma e contribuiu para a volatilidade dos fluxos de capitais nos mercados emergentes”, escreveu em comunicado o gabinete de avaliação independente da entidade liderada por Christine Lagarde.

De acordo com este relatório de tom muito crítico, o FMI adotou uma resposta apropriada à recessão mundial de 2008-2009 ao apelar a um relançamento orçamental maciço nos países ricos, “mas o seu apelo em 2010-2011 a uma transferência para a consolidação orçamental nalgumas das maiores economias foi prematuro”.

As conclusões desta auditoria interna indicam também que o FMI apelou aos grandes bancos mundiais para adotarem políticas monetárias extremamente acomodatícias, misturando taxas de juro baixas e aquisição de ativos, a fim de sustentar a atividade.

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De acordo com o documento, esta mistura de medidas não foi apropriada, uma vez que o relançamento monetário foi “relativamente inapto” para impulsionar a procura após uma crise financeira e, por outro lado, o FMI não prestou atenção suficientemente cedo aos efeitos nefastos destas políticas sobre os países emergentes (volatilidade financeira, queda de divisas, entre outros).

Para o futuro, o relatório afirma igualmente que o mecanismo que supostamente permite à instituição detetar novos riscos financeiros se tornou “muito complexo”. “A quantidade de análises é muito difícil de absorver, tanto para os dirigentes políticos como para as equipas do FMI”, assegura o relatório.

Em resposta, a diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde, saudou um relatório que considerou “equilibrado”, garantindo que “não partilha” do diagnóstico sobre o remédio anticrise.

“Acredito profundamente que aconselhar às economias que tinham um fardo crescente de dívida para se orientarem em direção à consolidação orçamental foi a melhor decisão tomada”, declarou a mesma responsável, num outro comunicado.